Descoberto primeiro planeta do tamanho da Terra sem ‘estrela mãe’

Felipe Miranda
(Jan Skowron / Astronomical Observatory, University of Warsaw)

Enxergar planetas pequenos que não orbitam nenhuma estrela é difícil. Os conhecemos como ‘Planetas Rebeldes’. Eles não seguem regras, e só vagam sozinhos pela galáxia. São, portanto, desvinculados de quaisquer sistemas planetários. A dificuldade de encontrá-los, é que geralmente utilizamos a variação da luz das estrelas para enxergá-los. Mas um planeta do tamanho da Terra sem estrela torna o trabalho muito mais difícil.

Até hoje, catalogamos apenas 4 mil planetas, dos quais apenas alguns são planetas rebeldes. No entanto, imagina-se que existam bilhões de planetas sem lar, bem como outros bilhões de planetas comuns. A maior parte dos planetas rebeldes que encontrados são bem grandes – geralmente entre 2 e 40 massas de Júpiter. Aliás, alguns deles, se gasosos e grandes o suficiente, chamamos de estrelas fracassadas. Sim, se Júpiter fosse um pouco maior, ele poderia se tornar uma estrela.

O grupo de cientistas liderado por astrônomos do Observatório Astronômico da Universidade de Varsóvia, na Polônia, publicou o estudo no periódico The Astrophysical Journal Letters na última quinta-feira (29). Eles defendem que isso seja uma evidência (não prova, no momento), de que os pequenos planetas rebeldes sejam os mais comuns objetos na galáxia. Só não sabemos disso ainda porque é muito difícil enxergá-los.

“As chances de detectar um objeto de massa tão baixa são extremamente baixas”, disse o autor principal do estudo Przemek Mróz, ao Live Science. “Ou tivemos muita sorte ou esses objetos são muito comuns na Via Láctea. Eles podem ser tão comuns quanto estrelas”.

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(Jan Skowron / Astronomical Observatory, University of Warsaw).

Encontrar um planeta rebelde do tamanho da Terra difícil, mas possível

Geralmente utiliza-se o método de trânsito planetário para buscar por exoplanetas. Ele consiste em coletar o brilho da estrela por um determinado tempo. Quando um planeta passa na frente da estrela, portanto, detectamos uma variação no brilho. Alguns métodos permitem diferenciar se trata-se realmente de um planeta, ou outra fonte de variação no brilho.

No entanto, planetas rebeldes não possuem uma estrela para orbitar. Nesse caso, os astrônomos utilizam as microlentes gravitacionais. Trata-se da distorção da luz pela gravidade da estrela, um fenômeno previsto pela Relatividade Geral, de Einstein e muito utilizado. Nesse fenômeno, a estrela funciona como uma verdadeira lente de aumento. 

“Se um objeto massivo (uma estrela ou um planeta) passa entre um observador na Terra e uma estrela fonte distante, sua gravidade pode desviar e focar a luz da fonte. O observador medirá um breve brilho da estrela de origem”, explica Mróz em um comunicado da Universidade de Varsóvia. “As chances de observar microlentes são extremamente reduzidas porque três objetos – fonte, lente e observador – devem estar quase perfeitamente alinhados. Se observássemos apenas uma estrela fonte, teríamos que esperar quase um milhão de anos para ver a fonte sendo microlente”.

Eles utilizaram o OGLE (Optical Gravitational Lensing Experiment), um projeto da Observatório Astronômico da Universidade de Varsóvia para o levantamento do céu de longo prazo. Ativo desde 1992, o OGLE analisa milhares de estrelas para melhorar as chances de detectar uma microlente gravitacional.  Trata-se de um dos mais longos e maiores projetos de varredura do céu em atividade.

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Warsaw Telescope, o principal telescópio do levantamento. (Astronomical Observatory of the University of Warsaw).

Um tempo muito curto, um tamanho pequeno

Mas o tempo do efeito depende, muitas vezes, do tamanho do planeta. Geralmente a microlente gravitacional dura algumas horas. No entanto, o novo evento, OGLE-2016-BLG-1928, durou apenas 42 minutos – um tempo consideravelmente menor do que o comum. Dessa forma, os cientistas estimam com bastante precisão o tamanho do planeta

“Quando vimos este evento pela primeira vez, ficou claro que ele deve ter sido causado por um objeto extremamente pequeno”, diz Dr. Radoslaw Poleski do Observatório Astronômico da Universidade de Varsóvia e co-autor do estudo. Na verdade, a comparação ideal para o tamanho do planeta é com Marte, já que possivelmente ele é ainda menor do que a Terra.

O estudo foi publicado no periódico The Astrophysical Journal Letters. Com informações de Live Science e EurekAlert / Universidade de Varsóvia

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