Conforme você mergulha mais fundo no oceano, a luz do sol vai ficando mais fraca e distante. A água fria te envolve à medida que a pressão aumenta. Agora está tudo escuro, tão profundo que a luz do sol não chega mais até você. De repente, surge uma surpresa: um piscar de luz de uma criatura jamais vista por humanos.
É um nudibrânquio recém-descoberto, descrito recentemente no periódico Deep-Sea Research Part I, nadando livremente na água e emitindo uma suave luz própria. Esse animal foi encontrado por pesquisadores do C, nos EUA.
Chama-se Bathydevius caudactylus, o primeiro nudibrânquio conhecido desse tipo, que vive não em águas rasas ou no fundo do mar, mas sim a mais de 2.200 metros de profundidade na zona batipelágica do Oceano Pacífico.
“A maioria dos nudibrânquios vive no fundo, em águas rasas, então foi surpreendente encontrar um nudibrânquio tão fundo na coluna de água e longe do fundo”, disse o cientista marinho do MBARI Bruce Robison. “Sabíamos de algumas espécies que vivem no fundo do mar profundo, mas nenhuma jamais havia sido relatada em águas profundas.”
As lesmas marinhas da ordem dos nudibrânquios são alguns dos moluscos mais interessantes. Elas costumam ser bem coloridas, com formatos e desenhos legais. Geralmente, aparecem em recifes de coral, onde algumas espécies se alimentam de coral; outras preferem algas, esponjas, anêmonas, águas-vivas ou até mesmo outros nudibrânquios.
Esses bichos são variados e adaptáveis, mas achavam que essa capacidade tinha um limite. Por isso, os pesquisadores do MBARI chamaram o animal de “molusco misterioso” ao vê-lo enquanto operavam o veículo de pesquisa remoto Tiburon a 2.614 metros de profundidade no mar.
“Quando o filmamos brilhando pela primeira vez com o ROV, todos na sala de controle soltaram um sonoro ‘Oooooh!’ ao mesmo tempo”, diz Haddock. “Ficamos todos encantados com a visão.”
A criatura que eles avistaram tinha um pé parecido com o de uma lesma do mar, mas também tinha um capuz bem grande e aberto e uma cauda com franjas, que pareciam dedos dançando na correnteza. Através da pele fina e quase transparente, dava pra ver os órgãos internos avermelhados. Quando o ROV chegou perto e a criatura se sentiu ameaçada, ela começou a brilhar com uma luz bioluminescente.
Esse comportamento parece ser uma forma de defesa: numa oportunidade, os pesquisadores observaram um dos tentáculos na cauda da lesma acender e girar constantemente até cair fora e flutuar livremente, bem parecido com um lagarto soltando sua cauda pra tentar distrair um predador.
No total, os pesquisadores encontraram 157 indivíduos dessa espécie em mergulhos entre 2000 e 2021. Desses, estudaram 32 em detalhe e coletaram 18 para pesquisas futuras no laboratório. O estudo incluiu uma análise genética que permitiu classificar essa criatura como um nudibrânquio — mas tão diferente dos outros nudibrânquios que tiveram que criar uma nova família chamada Bathydeviidae.