Conheça a Cidade-esponja, projetada para evitar enchentes

Daniela Marinho
Vista do parque Jinhua Yanweizhou, na cidade chinesa de Jinhua, um dos exemplos mais conhecidos de adaptação das cidades comuns em Cidades-esponja. Imagem: Divulgação / Turenscape

A tragédia que prossegue no estado do Rio Grande do Sul é um indicativo do poder avassalador e influência das mudanças climáticas que tornam os eventos climáticos extremos. Nesse contexto, essas alterações no clima terrestre estão avançando a um ritmo que torna quase inevitável o aumento dos riscos para as pessoas que vivem em áreas vulneráveis.

Entre os problemas mais sérios estão a elevação do nível do mar, inundações frequentes e secas prolongadas, resultando em escassez de água. Diante desse cenário desafiador, a criação das chamadas Cidades-esponja torna-se essencial. O conceito inovador, que já está sendo adotado com êxito em diversas partes do mundo, como Estados Unidos e China, visa mitigar esses problemas através de soluções urbanas sustentáveis e eficazes.

Cidades-esponja: uma saída urbanística

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A China é um dos primeiros países a implementar, em larga escala, a criação de cidades-esponja. Imagem: Divulgação / Turenscape

Segundo um artigo publicado pelo Observatório de Inovação para Cidades Sustentáveis (da sigla OICS, uma plataforma virtual de mapeamento e divulgação de conteúdos e soluções urbanas inovadoras em sustentabilidade apoiada pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, o PNUMA), “Cidade-esponja é um conceito de cidade sensível à água, remetendo à situação na qual a mesma possui a capacidade de deter, limpar e infiltrar águas usando soluções baseadas na natureza”.

As alterações arquitetônicas e urbanísticas que transformam uma cidade em uma “cidade-esponja” têm como objetivo encontrar soluções eficazes para a absorção das águas das chuvas. Segundo o OICS, essas soluções podem ser aplicadas tanto em áreas livres quanto em áreas construídas. A ideia central é recarregar os aquíferos e lençóis freáticos locais com a água da chuva, permitindo que o excesso de água escoe para regiões apropriadas que possam ser alagadas de forma controlada.

A plataforma explica que uma Cidade-esponja deve ser “projetada para funcionar como uma floresta”, o que implica na inclusão de cobertura vegetal capaz de sequestrar carbono. Além disso, uma Cidade-esponja se compromete com a proteção e introdução de biodiversidade, garantindo que sua estrutura suporte e promova a vida vegetal e animal.

Isso significa que essas cidades podem ver o surgimento de áreas verdes ricas em árvores e animais nativos. A plataforma destaca ainda que as Cidades-esponja têm o potencial de melhorar diversos aspectos essenciais para a qualidade de vida dos seus habitantes. Elas não só contribuem para o bem-estar geral, mas também atraem empresas da nova economia verde e criativa, promovendo um ambiente urbano mais saudável e sustentável.

Características da Cidade-esponja

De acordo com o artigo da revista Elsevier, alguns elementos precisam existir para de fato constituir uma Cidade-esponja.

Desse modo, a criação de áreas verdes para absorção de água, como zonas úmidas e parques alagáveis, é uma estratégia fundamental para tornar as cidades mais sustentáveis. Esses espaços funcionam como áreas de escape para a água, ajudando a prevenir inundações.

Outra medida importante na execução da Cidade-esponja é a recuperação das margens dos rios. Isso inclui substituir o concreto por mata ciliar ou áreas verdes, o que restaura o ecossistema natural e aumenta a capacidade de absorção de água.

Conforme explicou a Elsevier, as áreas verdes que seriam os “jardins de chuva”, estrategicamente distribuídas pelas cidades, podem reduzir o escoamento superficial em 25-69% e o pico de escoamento em 12-71%, ajudando a controlar enchentes e a melhorar a qualidade da água.

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Mesmo sem chuvas intensas, a infraestrutura de uma Cidade-esponja, como a do Parque Jinhua Yanweizhou na China, transforma o cenário urbano ao integrar mais vegetação e elementos que resistem a inundações. Imagem: Divulgação / Turenscape

Os “telhados verdes” são fundamentais, pois diminuem significativamente a velocidade com que a água da chuva atinge o solo, retardando esse processo em até 20 minutos. Isso ajuda a distribuir a água de maneira mais uniforme pela cidade, mitigando o risco de enchentes.

A adoção de pavimentos permeáveis é outra tecnologia essencial. Este tipo de pavimento absorve a água, minimizando problemas comuns em áreas asfaltadas ou concretadas, como fragmentação, rachaduras e assentamento irregular. Ademais, ele contribui para a diminuição do escoamento superficial, permitindo que a água infiltre no solo de forma mais natural e eficiente.

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