O gênero da maioria dos répteis é determinado depois da fertilização, diferentemente dos mamíferos que dependem dos cromossomos X e Y. A temperatura de incubação dos ovos irá determinar se o filhote será macho ou fêmea.
As tartarugas marinhas, por exemplo, colocam em torno de 100 ovos por desova, esses ovos são incubados em um ninho na areia da praia, escavado pela própria fêmea que colocou os ovos. Após a desova, a tartaruga fêmea volta para o mar e os ovos são incubados sozinhos por uma média de 60 dias.
Temperaturas de incubação em torno de 27,7°C apresentarão filhotes machos, enquanto temperaturas médias de 31°C eclodirão filhotes fêmeas.
Se a temperatura variar durante o desenvolvimento das tartarugas, os sexos dos filhotes serão mistos. Ainda não se sabe como funciona o registro da temperatura e sua transmissão para o desenvolvimento do sexo das tartarugas.
No entanto, um novo estudo esclarece melhor esse fenômeno.
É tudo questão de gene…
Pesquisadores estudaram a tartaruga-de-orelha-vermelha e seus ovos em laboratório e conseguiram monitorar seu desenvolvimento de perto.
Eles identificaram que um dos genes responsáveis na determinação do sexo de tartarugas, o Kdm6b, é capaz de promover o desenvolvimento de tartarugas do sexo masculino. No entanto, o gene só era expresso, ou seja, transcrito em proteína, quando as temperaturas de incubação eram mais frias. Em temperaturas mais elevadas, o gene não era expresso.
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Apesar disso, os pesquisadores também identificaram um regulador do gene Kdm6b. Esse regulador, Stat3, está presente nos ovos independentemente da temperatura, mas fica ativo e tem capacidade de bloquear o desenvolvimento de filhotes machos em temperaturas elevadas.
Ao bloquear a atividade do regulador Stat3, os cientistas observaram maior desenvolvimento do sexo masculino, mesmo em temperaturas mais quentes.
… e um pouco de cálcio
A atividade do Stat3 pode ser controlada quimicamente por suas ligações com o composto fosfato. E o que os cientistas descobriram é que a adição de fosfato nas ligações é regulada pela quantidade de cálcio nas células.
A quantidade de cálcio muda com a temperatura. Os pesquisadores acreditam que a presença de cálcio é a forma como os fetos em desenvolvimento medem a temperatura do ovo, para então acontecer o processo de diferenciação de gênero.
Essa pesquisa traz novas perspectivas do caminho que a temperatura determina o sexo das tartarugas. Mas ainda há várias perguntas sem respostas, como “por que a quantidade de cálcio muda de acordo com a temperatura?”.
Os cientistas já estão trabalhando em várias hipóteses para responder essa pergunta. No entanto, o aquecimento global está elevando a temperatura dos locais de desova das tartarugas, aumentando a frequência de tartarugas fêmeas ou até mesmo matando os filhotes durante a incubação.
Entender os processos que levam a determinação do sexo nas tartarugas pode levar a medidas de conservação das espécies ameaçadas.
Com informações de Ars Technica e NOAA
