Como a planta carnívora dioneia armazena memórias de suas presas

Amanda dos Santos
Quando os pelos sensoriais nas armadilhas da mosca de Vênus são ativados, uma inundação de cálcio entra nas células das folhas, fazendo com que a armadilha se feche. (Foto: Pixabay)

A “memória” a curto prazo de uma ratoeira da dioneia, planta carnívora também conhecida como apanha-moscas, pode durar cerca de 30 segundos. O que explicaria esse movimento? As concentrações de cálcio nas células da folha sinalizam quando a planta dioneia deve se fechar. Ou seja, se um inseto tocar nos cabelos sensíveis da planta apenas uma vez, a armadilha permanece imóvel. Mas se o inseto bater novamente em cerca de meio minuto, as folhas da planta carnívora se fecham e prendem a sua presa.

Mistério da dioneia, planta carnívora

O modo como as dioneias se lembram desse toque inicial tem sido um mistério. Mas um novo estudo revela que as plantas usam cálcio, é o que relatam os pesquisadores na Nature Plants.

Os cientistas já sabiam que algumas plantas têm memória de longo prazo, diz o coautor do estudo Mitsuyasu Hasebe, biólogo do Instituto Nacional de Biologia Básica em Okasaki, no Japão. Por exemplo, a vernalização é o modo como as plantas lembram de períodos de frio do inverno como um sinal para florescer na primavera.

Mas a memória de curto prazo é um mistério e essa é a primeira evidência direta do cálcio, diz Hasebe.

A dioneia é uma planta carnívora famosa por suas folhas semelhantes a mandíbulas. Mesmo que ela não tenha cérebro ou sistema nervoso, aparentemente pode contar até cinco e distinguir entre presas vivas e chuva, o que poderia inadvertidamente fazer com que suas folhas se fechassem, desperdiçando energia.

planta carnívora dioneia
Planta carnívora dioneia. (Imagem: Pixabay)

O desempenho do cálcio na planta dioneia

Pesquisas anteriores sugeriram que o cálcio desempenha um papel no processo estudado. Com a ajuda da engenharia genética, Hasebe e seus colegas foram capazes de realmente ver o cálcio em ação.

Então, os pesquisadores adicionaram genes às dioneias que produzem uma proteína. Ela brilha em verde quando exposta ao cálcio.

Quando a equipe encostou em um dos fios de cabelo sensoriais da armadilha, a base brilhou, se espalhou pela folha e desapareceu. Mas, quando os pesquisadores tocaram o cabelo outra vez ou um fio diferente na folha, em cerca de 30 segundos, as folhas da armadilha brilharam ainda mais do que antes e a planta se fechou rapidamente.

Os resultados mostram que a memória a curto prazo da dioneia é um aumento e diminuição do cálcio dentro das células das folhas, dizem os pesquisadores. Cada vez que um cabelo sensorial é acionado, ele sinaliza a liberação de cálcio.

A partir de então, a medida que a concentração de cálcio aumenta até atingir um certo nível alcançado por aquele segundo, a planta se fecha.

Mesmo assim, para a planta sentir a presa, a armadilha opera uma rede elétrica rápida que pode converter o movimento de uma mosca ou outro inseto em pequenas mudanças de voltagem que se propagam pelas células da planta, diz o coautor Rainer Hedrich.

Logo, os cientistas ainda não têm certeza de como o sistema de memória do cálcio funciona em conjunto com a rede elétrica para ativar esse estalo da planta dioneia.

Estudo publicado na Nature Plants.

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