Viver até os 100 anos foi e continua sendo um feito extraordinário para qualquer ser humano. No entanto, por conta dos avanços na saúde e em outras áreas que interferem diretamente na qualidade de vida, acredita-se que até 2050 metade dos bebês que nascem na atualidade em países com um bom desenvolvimento podem se tornar centenários ou até viver por mais tempo, o que representaria uma longevidade nunca antes vista, mas que se projeta para o futuro.
Adicionada a isso, a queda das taxas de fertilidade sinaliza para um cenário em que as sociedades do futuro pertencerão aos idosos, superando de várias formas os jovens. Esse desdobramento certamente introduzirá uma série de desafios para os sistemas de saúde das comunidades industrializadas, sobretudo para que sejam funcionais.
Desse modo, a forma como a educação e o trabalho são abordados deverá passar por uma mudança radical; afinal de contas, o impacto social devido a tantas pessoas vivendo por tantos anos é inevitável e representará uma nova configuração necessária e diferenciada.
As pessoas estão vivendo mais, isso significará um maior tempo de trabalho?
Se por um lado a longevidade das pessoas está crescendo; por outro lado, é possível que elas precisem trabalhar por mais tempo. Isso porque o sistema social deverá se adequar à longevidade do futuro. Entretanto, para que os anos de vida sejam aumentados, o sistema de saúde – fator essencial para uma vida duradoura – não deve ser sobrecarregado.
De acordo com um relatório do Stanford Center on Longevity, as pessoas que poderão viver até os 100 anos deverão trabalhar por 60 anos ou mais. No Brasil, essa já é uma realidade vivenciada pela população, tendo em vista a Reforma da Previdência Social.
Nos Estados Unidos, a idade média de aposentadoria foi de 65 anos para homens e 62 para as mulheres em 2021. Contudo, em 1992, a idade era de 62 anos para homens e 59 anos para mulheres. Essa diferença significa que as pessoas podem esperar para o futuro 20 anos a mais no tempo de trabalho.
Vale salientar que os pesquisadores de Stanford assinalam que esse acréscimo relevante não significa que todos esses 60 anos serão intensas semanas de trabalho de 40 horas, além disso, não significa que haverá um fluxo contínuo de empregos em tempo integral. A maioria das pessoas também terá, provavelmente, mais de uma carreira profissional.
Nova estrutura de trabalho na meia-idade
Na meia-idade, por volta dos 40 aos 50 anos, é a fase de maior estabilidade, quando as pessoas estão no auge de suas carreiras, mas também precisam assumir maiores responsabilidades no contexto profissional, criar filhos e cuidar de parentes.
Assim, o que se desenha é a necessidade de repensar uma nova estrutura de trabalho para pessoas nessa fase, já que todos os fatores envolvidos, incluindo o acréscimo de duas décadas até a aposentadoria, se mostram estressantes.
Ainda não é possível determinar de que forma essa transição vai acontecer, mas é certo que a forma tradicional como a aposentadoria acontece hoje está sujeita a rupturas, principalmente com relação aos desdobramentos estruturais; ou seja, ao invés de passar por um emprego em tempo integral e depois se aposentar, a expectativa é de que exista uma redução gradativa das horas de trabalho na medida em que a pessoa se aproxime da aposentadoria.
Equilíbrio entre a vida pessoal e profissional
Algo que também é esperado para as próximas décadas é de que os profissionais mudem de carreira ou entrem num longo hiato entre empregos antes de se aposentar. Esses períodos relativamente longos, que poderão ser remunerados ou não, serão indispensáveis para cuidados médicos e assuntos extraprofissionais.
Dessa forma, o equilíbrio entre vida pessoal e profissional não deve ser negligenciado. O relatório de Stanford menciona que a satisfação no trabalho não está mais ligada principalmente ao salário, mas sim a uma série de fatores subjetivos que se complementam, incluindo oportunidades de crescimento pessoal, segurança no trabalho, estresse mental, ética no setor, flexibilidade e relacionamentos interpessoais.
Assim sendo, esses fatores serão ainda mais importantes com o tempo, pois se as pessoas tiverem que trabalhar mais 20 anos ao longo dessa longevidade, deve haver uma maneira de equilibrar carreiras com saúde, hobbies e relacionamentos pessoais.