Cientistas transformaram água-viva em um ciborgue

Damares Alves
Cientistas transformaram água viva em um ciborgue. (Imagem: Science Advances)

Embora sejam um pouco lentas, as água-vivas são os nadadores mais eficientes do oceano. Agora, cientistas transformaram uma água-viva em um ciborgue capaz de nadar três vezes mais rápido. Eles planejam utilizar o organismo cibernético para explorar o oceano.

O casal de pesquisadores da Universidade de Stanford, Nicole Xu e John Dabiri, anunciaram em um artigo publicado na Science Advancesa criação da primeira água-viva ciborgue.

Como cientistas transformaram água-viva em um ciborgue?

Para criar o “ciborgue” a dupla de pesquisadores escolheu como base a medusa da lua (Aurelia aurita), uma água-viva que pode ser encontrada em todos os oceanos do planeta. Em seguida eles projetaram um controlador à prova d’água com uma bateria de polímero de lítio, um microprocessador e conjunto de eletrodos, que incorporaram ao tecido muscular da água-viva através de um palito de dente para fazer com que medusa se mova muito mais rapidamente. O controlador gerou formas de ondas elétricas e as injetou nos músculos da água-viva.

Figuras do documento mostrando como os cientistas transformaram água viva em um ciborgue.  Na imagem é possível observar os componentes do controlador e a construção concluída. (i) a tampa e o pino de madeira, (ii) é uma chumbada de cortiça e aço inoxidável para manter o gabinete flutuante, (iii) é um microprocessador com uma (iv) bateria conectada e (v) são dois eletrodos com LEDs. Captura de tela : Wu e Dabiri  (Science Advances, 2020)
Figuras do documento mostrando como os cientistas transformaram água viva em um ciborgue. Na imagem é possível observar os componentes do controlador e a construção concluída. (i) a tampa e o pino de madeira, (ii) é uma chumbada de cortiça e aço inoxidável para manter o gabinete flutuante, (iii) é um microprocessador com uma (iv) bateria conectada e (v) são dois eletrodos com LEDs. Captura de tela : Wu e Dabiri (Science Advances, 2020)

Isso poderia ferir ou causar danos ao animal?

As água-vivas são animais invertebrados sem sistema nervoso central ou nociceptores relatados, eles não sentem dor. Os cientistas também relatam ter tomado todas as medidas para garantir que nenhum dano desnecessário aos tecidos das água-vivas ocorresse durante as experiências. Já sobre os danos causados pela introdução dos eletrodos nos animais, a equipe afirmou que eles se regeneraram por conta própria após a remoção de todos os aparatos.

O organismo cibernético poderia explorar os oceanos

A medusa-ciborgue se mostrou de 10 a 1.000 vezes mais eficiente em termos energéticos que robôs aquáticos utilizados atualmente. Nicole Xu e John Dabiri acreditam que seu robô tem grande potencial e que futuramente pode ser usado para monitorar o oceano ou coletar amostras subaquáticas.

Uma água-viva ciborgue equipada com instrumentos e um pacote de controle, seria um benefício para os cientistas marinhos. Com a espécie certa você poderia mergulhar nas partes mais profundas do oceano.

Testando os híbridos máquina-animal

O casal realizou três testes: o primeiro tinha o objetivo de observar as águas-vivas nadando sozinhas sem um controlador conectado.

O segundo teste foi realizado com o controlador desligado para ver como isso afetava o movimento das medusas.

Por último os pesquisadores fizeram os testes com os controladores que forneciam estimulação elétrica. A adição do controlador sem estimulação parecia não ter muito efeito sobre os animais. Mas com os estímulos elétricos as água-vivas passaram a nadar à velocidades quase três vezes maiores.

Por que as água-vivas não são rápidas sem os estímulos elétricos?

Segundo os autores, é possível que as medusas continuem lentas porque não há pressão evolutiva para que elas nadem tão rápido. Esse simplesmente não é um recurso essencial para sua sobrevivência.

Os pesquisadores concluíram o estudo afirmando que pretendem melhorar a controlabilidade dos robôs bio-híbridos e aumentando ainda mais sua eficiência energética.

O estudo foi publicado na Science Advances, clique aqui para acessá-lo.

Publicação original SoCientífica.

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