Cientistas têm uma nova explicação para as ‘Estatuetas de Vênus’ da pré-história

Felipe Miranda
Estatuetas de Vênus. (Bjørn Christian Tørrissen / Wikimedia Commons).

As ‘Estatuetas de Vênus’ são diversas estatuetas pré-históricas representando mulheres. Mas uma característica importante delas é a obesidade. Quadris largos, grandes seios e grandes coxas – é impossível não notar essas características nas estatuetas.

A interpretação predominante na comunidade científica é a de que isso representava o padrão de beleza desses povos pré-históricos. Quem nunca viu nada sobre isso nas aulas de artes, na época de escola? Os grandes seios e quadris largos representariam a fertilidade, além da grande reserva de gordura para a gestação. Por isso que os cientistas as apelidaram de Estatuetas de Vênus. 

As estátuas datam de 30.000 anos atrás. Portanto, grandes quadris como sinais de fertilidade fariam sentido. Uma gravidez é difícil até hoje. Pouco tempo atrás, a mortalidade infantil era enorme. E até hoje, 830 mulheres morrem por dia em decorrência de problemas no parto, conforme a OMS. O ser humano burlou a seleção natural com a medicina, mas não sobreviveríamos, a depender da natureza.

Essas complicações no parto devem-se a dois fatores principais: o tamanho de nossa cabeça e o tamanho do quadril. Quando alguns primatas tornaram-se bípedes (andando predominantemente em duas patas), principalmente a espécie humana, o quadril se estreitou. A partir daí, o parto se tornou difícil. Como passar uma cabeça gigante por um quadril menor? Note, inclusive, que os bebês humanos nascem bastante prematuros, em comparação com outros animais, e precisam dos cuidados dos pais por anos. 

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(Andreas Franzkowiak / Wikimedia Commons).

Portanto, nesse sentido, quadris mais largos como símbolo de fertilidade fariam sentido. Mas a questão não é simples assim.

Resfriamento global

Cerca de 48.000 anos atrás os primeiros homo sapiens chegaram à Europa. Lá, eles caçavam renas, cavalos e mamutes. No verão quando os frutos surgiam em seu ápice, se alimentavam de frutas vermelhas, peixes, nozes e outras plantas. No entanto, por motivos naturais o clima não permaneceu completamente estável. 

20 mil anos atrás a Era do Gelo atingiu seu ápice, mas se iniciou ainda antes. Durante esse período, todo o planeta ficou mais frio, e algumas áreas atingiam temperaturas incrivelmente mais negativas. Alguns povos do hemisfério norte, então, foram para o Sul, mais próximo da linha do equador, áreas mais quentes, já que recebem mais Sol.

Esse período de extremo resfriamento é justamente quando as Estatuetas de Vênus surgem entre os povos Pré-históricos da Europa. Os pesquisadores, então, dizem que não trata-se de uma coincidência, mas que os fatos relacionam-se diretamente. 

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Note que nesse período há muito mais gelo do que hoje na Terra. (Ittiz / Wikimedia Commons).

Estatuetas de Vênus e a sobrevivência

Em uma análise bastante cuidadosa, eles perceberam que as estatuetas mais próximas das geleiras, regiões mais frias, eram mais obesas do que as estatuetas mais ao sul, regiões com um clima mais amigável para a sobrevivência humana. Portanto, a obesidade tornou-se uma maneira de se sobreviver nas regiões frias, conforme sugerem os pesquisadores em um estudo no periódico Obesity.

“Propomos que eles transmitissem ideais de tamanho corporal para mulheres jovens, especialmente aquelas que viviam nas proximidades de geleiras”, disse Richard Johnson, autor principal do estudo. “Descobrimos que as proporções do tamanho do corpo eram maiores quando as geleiras avançavam, enquanto a obesidade diminuía quando o clima esquentava e as geleiras recuavam”.

Portanto, as Estatuetas de Vênus tornaram-se um símbolo de sobrevivência. O estado sugeria, ainda, que as mães as passavam para suas filhas, como uma herança. Há mais de 200 com os pesquisadores, todas datadas de períodos entre 38 e 14 mil anos atrás. 

De certa forma, elas tornaram-se símbolos de fertilidade, já que as mulheres mais nutridas, com maiores reservas de gordura, podiam gerar filhos mais facilmente. “A estética da arte, portanto, teve uma função significativa ao enfatizar a saúde e a sobrevivência para acomodar as condições climáticas cada vez mais austeras”, diz Johnson. Mas o ponto é que não liga-se a fertilidade diretamente, mas através do contexto da Era do Gelo. 

O estudo foi publicado no periódico Obesity.

Com informações de Science Alert e University of Colorado

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