Cientistas podem ter descoberto como detectar buracos de minhoca

Felipe Miranda
Imagem: Heather / Flickr

Buracos de minhoca são atalhos hipotéticos no espaço. São duas extremidades que se ligam. Elas “dobram” o espaço, fazendo um atalho, como aquela viela que corta no quarteirão ali na sua vila. Dessa maneira, ao invés de você precisar dar uma volta de 300 metros, faz um corte por uma viela de 100 metros, economizando um tempo.

A ideia de buracos de minhoca foi proposta há um século, mas nunca foi comprovada. Se os buracos de minhoca fossem provados, poderiam, teoricamente, servir como atalhos para naves espaciais – é claro, se a radiação e a forte gravidade não destruíssem quaisquer coisas que se aproximassem.

Agora, uma equipe de pesquisadores da Universidade se Sofia, na Bulgária, pode ter descoberto um novo método para detectar buracos de minhoca, caso eles existam. O estudo pode abrir campo para uma comprovação (ou a confirmação da não existência) dos buracos de minhoca. O estudo foi publicado pelos pesquisadores no periódico Physical Review D.

Buracos e mais buracos…

Buracos de minhoca, assim como os buracos negros, são implicações da Relatividade Geral de Einstein. Só que os buracos negros já foram confirmados há décadas. Se eles existem, é razoável assumir que os buracos de minhoca devem existir também. Porém, o principal problema para a detecção de possíveis buracos de minhoca, é o fato de que eles se parecem muito com buracos negros quando os olhamos. Portanto, pode ser que já tenhamos visto algum buraco de minhoca, mas ele está disfarçado. A questão é, portanto, como separar um do outro. E é aí que esse novo estudo entra.

Para simular um buraco de minhoca, os cientistas o simplificaram e modelaram na forma de um anel magnetizado de fluido. Dessa maneira, eles puderam analisar o comportamento da “garganta” do buraco negro.

Acontece que para detectar buracos negros, nós não conseguimos olhar diretamente para eles, como o próprio nome indica. Portanto, precisamos enxergá-los através de seus rastros – alguns parâmetros cujas características podem ser consideradas como assinaturas em comuns.

Se os buracos de minhoca existem, algumas dessas assinaturas devem ser semelhantes – a liberação de alguns tipos de radiação, presença de quasares ou discos de acresção e a forte anomalia gravitacional causada pelo corpo que foi colapsado sob sua própria gravidade. No entanto, algumas assinaturas que os diferenciam devem existir.

Uma das assinaturas de um buraco negro, assim como do buraco de minhoca, são algumas polarizações da luz e de outros comprimentos de onda (microondas, rádio, etc) causadas por enormes e fortes campos eletromagnéticos gerados pela interação da matéria com os massivos objetos.

LuzPolarizada
A polarização da luz é uma das assinaturas dos buracos negros e buracos de minhoca. Imagem: Alejandro Porto / Wikimedia Commons

Embora uma tarefa extremamente difícil, poderíamos, segundo os pesquisadores, diferenciar um buraco negro de um buraco de minhoca pela diferença na polarização das ondas recebidas. Ou seja, não precisaríamos nem mesmo fazer uma nova procura. Somente buscando algum parâmetro específico que demonstre a assinatura de um buraco de minhoca em nossa base de dados poderia mostrar que, potencialmente, alguns dos buracos negros encontrados são, na realidade, buracos de minhoca.

Entretanto, um simples desalinhamento ou uma pequena interferência de outro corpo no caminho podem impedir essa diferenciação. De certa maneira, localizar essas assinaturas em meio a esses dados é depender um pouco da sorte, já que são diferenças tênues.

Uma lente gravitacional (leia sobre clicando aqui) também poderia ajudar nesta tarefa. A lente gravitacional funciona, sim, como uma lente de aumento. Portanto, já que há obstáculos que possam impedir uma análise aprofundada, essas “lentes” poderiam amplificar essas minuciosas características e fornecer um nível de detalhes o suficiente para possibilitar essas diferenciações.

Além disso, se dermos sorte e as ondas vierem no ângulo perfeito, essa polarização específica do buraco de minhoca pode ser detectada de maneira um pouco mais simples.

O estudo abre caminho para que essas novas buscas ocorram e, em algum futuro não muito distante, tenhamos uma confirmação da existência dos buracos de minhoca no mundo real.

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