Poucos animais marinhos conseguem ser tão majestosos quanto as baleias. Essas criaturas que chegam a proporções titânicas nos impressionam pelo tamanho e também por alguma das suas características. Uma delas é o seu canto que serve tanto para sua ecolocalização quanto para encontrar parceiros. Porém essa habilidade das baleias também causa um fascínio particular nos cientistas ao tentar entender como elas são capazes de fazê-la estando debaixo de enormes colunas de água.
O mistério de como as baleias contam está bem próximo de ser solucionado, pois um estudo da Universidade da Dinamarca do Sul parecem ter encontrado a resposta, embora seja cedo para dizer que é definitivo. O estudo foi publicado recentemente na revista Nature.
O grupo de cientistas analisou três espécies de misticetos, conhecidos vulgarmente como baleias de barbatanas, que até o momento sabia-se que eram capazes de produzir sons pela sua laringe. Contudo como exatamente o órgão funcionava embaixo d’água intrigou por muito tempo biólogos e outros cientistas. Isso porque os odontocetos, baleias com dentes como os golfinhos, cachalotes e belugas, possuem um órgão nasal vocal que produz esses barulhos. Já os misticetos dependem unicamente da laringe e precisam cantar sem expelir grandes quantidades de ar.
Como as baleias cantam e respiram ao mesmo tempo?
Para descobrir a resposta, os autores do artigo estudaram a laringe de três baleias mortas por encalhar na praia: uma jubarte, uma baleia-de-minke e uma baleia-sei. Aliás, esse é um dos motivos que dificulta tanto o estudo do canto das baleias uma vez que a decomposição delas ocorre muito rápido, não dando tempo o suficiente para se recuperar e analisar seus órgãos. Além disso, o estudo de baleias vivas possui suas próprias dificuldades, portanto essa foi uma das raras oportunidades que um timing preciso permitiu que os cientistas conseguissem conduzir sua pesquisa.
Após serem capazes de contornar esse problema com espécimes frescas, a equipe descobriu como as baleias de barbatana haviam desenvolvido uma estrutura única para poderem cantar sob a água. Segundo o estudo, por trás da laringe dessas baleias existe uma espécie de almofada gordurosa que vibra contra as cordas vocais delas, produzindo o som conhecido desses animais.
Ainda não havia registros desse mecanismo em outras pesquisas e por esse motivo que a descoberta impressiona a comunidade científica. Pesquisadores como Joy S. Reidenberg, que também estuda anatomia de baleias na Escola de Medicina Icahn no Monte Sinai, universidade privada americana, mas não esteve presente nessa pesquisa, afirma que tal descoberta irá mudar a perspectiva de como as baleias produzem sons.
Até então o que se sabia é que as baleias possuem um ancestral em comum que vivia na terra e em algumas ocasiões retornavam à água. Portanto eles evoluíram suas laringes de forma que fossem capazes de expelir grandes quantidades de ar em pouquíssimo tempo. Mas havia um porém, pois na maior parte dos mamíferos conhecidos, cordas vocais atrapalham grandes fluxos de ar. Logo, os misticetos acabaram desenvolvendo tecidos especiais com uma estrutura em forma de U dentro das suas laringes e com isso eles são capazes de manter suas vias aéreas abertas sem engolir água. Então o que os pesquisadores fizeram foi prender as três laringes removidas das baleias em tubos e sopraram ar através deles
Coen Elemans, um dos autores do estudo e pesquisador no departamento de biologia da Universidade da Dinamarca do Sul, disse que:
“Descobrimos que esta estrutura em forma de U pressiona contra um grande amortecedor de gordura na parte interna da laringe. Quando as baleias empurram ar de seus pulmões através deste amortecedor, ele começa a vibrar, e isso gera sons subaquáticos de frequência muito baixa”.
Contudo, o estudo ainda não é definitivo. Os pesquisadores só conseguiram até o momento estudar três tipos de baleias de barbatana, então não há como afirmar que o mecanismo encontrado nelas está presente em todo o grupo. Além disso, as espécies ainda se encontravam na fase juvenil do seu ciclo de vida, a mesma observação precisa ser confirmada em espécimes adultos. De qualquer forma, o estudo já apresenta um grande salto na compreensão de como as baleias cantam embaixo d’água.