Um dos maiores problemas que a biodiversidade marinha enfrenta é o bycatch (ou pesca acidental). Frequentemente, fêmeas de tubarão são capturadas e acabam morrendo ainda com ovos e filhotes em suas barrigas. Acontece que diversos cientistas estão resgatando os ovos de tubarões e dando uma segunda chance aos filhotes.
A ONG Sharklab-Malta foi uma das pioneiras no resgate dos ovos de tubarões. Greg Nowell, seu fundador, frequentemente chega aos mercados de peixe da Ilha de Malta antes das 3:00 da manhã. Nesse horário os pescadores acabam de voltar do mar e a maioria dos peixes já morreu.
Contudo, um quantidade significativa de fêmeas de pequenas espécies de tubarão, da família Scyliorhinidae, mantém seus ovos vivos em sua barriga, apesar de já terem perecido. Nowell, bem como outros integrantes da ONG, então coletam os ovos em tanques móveis de água salgada, onde os ovos de tubarão viajam até um laboratório.
Com sorte, uma grande quantidade dos filhotes destes ovos sobreviverá. Os filhotes então podem, depois de certo tempo, ser liberados novamente ao mar, após a equipe ter coletado dados e cuidado dos pequenos tubarões.
Apesar de pioneiro, Nowell definitivamente não está sozinho em seu objetivo. Os dois biólogos marinhos Pablo García Salinas e Jaime Penadés Suay coletaram ao menos 150 ovos de tubarões de pescadores locais, na Espanha. Destes, 120 acabaram se desenvolvendo com sucesso e voltaram ao mar.
Os dois biólogos, vale ressaltar, atuam dentro da ONG Associació Lamna, que tem o objetivo da preservação dos tubarões do Mediterrâneo, bem como a Sharklab-Malta .
Ovos de tubarões como esperança, não solução
Apesar dos esforços hercúleos das equipes citadas acima, além de muitas outras, alguns especialistas chamam a atenção para a eficiência do projeto. Mesmo Nowell afirma, à Hakai Magazine:
“Algumas pessoas perguntam, ‘Se vocês estão pegando estes ovos e recuperando os tubarões, vocês estão salvando a população?’ E nós não estamos. Se nós colocamos colocar dois de volta [na população] para cada um [pescado], fantástico. Mas em última análise o que todo esse processo nos permitiu foi olhar para uma metodologia, e desenvolver um método que possa ser usado em qualquer lugar no mundo.”
Ademais, especialistas argumentam que os tubarões soltos ao mar não estão completamente preparados para a vida selvagem. Assim, eles acabam virando comida de peixes maiores, mesmo outros tubarões.
Ainda, muitos ovos de tubarões são bastante sensíveis às mínimas variações de temperatura e pH. As ONGs citadas, inclusive, também trabalham no resgate de ovos de arraias. No entanto estes são, em geral, ainda mais sensíveis que os ovos de tubarão.
Portanto, aqui vale comentar o objetivo principal deste tipo de iniciativa. Para além de dar uma segunda chance aos tubarões e arraias ainda nos ovos, estas equipes querem trazer esperança e mudança de paradigmas.
Muitos destes ovos de tubarões reabilitados ajudam na conscientização não só de adultos, mas diretamente em escolas infantis. Alguns programas levam crianças para conhecer os ovos e os acompanharem durante seu desenvolvimento.
Isso mostra não só a importância ecológica destes animais, mas também ajuda a quebrar a ideia de peixes sanguinários e violentos que muitos filmes ajudaram a criar.
Apesar da baixa recuperação das populações por esse tipo de resgate, o especialista Nick Dulvy afirma: “É realmente grosseiro desprezar atividades esperançosas. Com a mudança climática, pesca excessiva, tudo – todo mundo está procurando por uma pequeno coisa que possa fazer [para ajudar].”