Pesquisadores da Universidade de Bergen, na Noruega, fizeram uma descoberta surpreendente: uma espécie de água-viva tem a capacidade de reverter seu próprio processo de envelhecimento. Este fenômeno raro desafia nossa compreensão atual sobre o desenvolvimento animal e abre novas possibilidades para o estudo do envelhecimento e regeneração celular.
A espécie em questão, chamada Mnemiopsis leidyi, é um tipo de ctenóforo, também conhecido como água-viva-de-pente. Os cientistas observaram que, quando enfrentam condições desfavoráveis como falta de alimento ou lesões físicas, esses animais podem regredir de sua forma adulta para um estágio larval anterior.
Um mecanismo de sobrevivência único
“Testemunhar como eles lentamente fazem a transição para uma típica larva cidípide, como se estivessem voltando no tempo, foi simplesmente fascinante”, disse Joan J. Soto-Angel, pesquisador pós-doutoral da Universidade de Bergen e coautor do estudo publicado no bioRxiv.
Este mecanismo parece ser uma estratégia de sobrevivência. Quando as condições melhoram e o alimento volta a estar disponível, as águas-vivas podem se desenvolver novamente em adultos reprodutivos. Esta habilidade pode explicar parte do sucesso da M. leidyi como espécie invasora, permitindo que ela se adapte a diferentes condições ambientais.
Implicações para a biologia evolutiva
A descoberta é significativa porque a M. leidyi é apenas a terceira espécie animal conhecida capaz de reverter seu desenvolvimento na idade adulta. As outras duas são a “água-viva imortal” (Turritopsis dohrnii) e uma espécie de tênia canina (Echinococcus granulosus).
Os ctenóforos estão entre os grupos animais mais antigos ainda existentes, possivelmente anteriores à divisão entre animais com e sem espinha dorsal. Isso levanta questões intrigantes sobre os mecanismos moleculares e celulares que impulsionam esse desenvolvimento reverso e como ele evoluiu.
“Esta descoberta fascinante abrirá portas para muitas descobertas importantes. Será interessante revelar o mecanismo molecular que impulsiona o desenvolvimento reverso e o que acontece com a rede nervosa do animal durante esse processo”, comentou Pawel Burkhardt, outro pesquisador envolvido no estudo.
Novas perspectivas para pesquisas futuras
Os cientistas acham que entender como a M. leidyi consegue fazer isso pode ajudar a descobrir mais sobre os mecanismos que controlam o envelhecimento e a regeneração em várias espécies. Além disso, essa habilidade pode transformar a M. leidyi em um novo modelo para pesquisas sobre o desenvolvimento reverso, envelhecimento e regeneração celular.
Embora a ideia de reverter o envelhecimento em humanos ainda pareça coisa de ficção científica, compreender como esses processos funcionam em seres mais simples pode, no futuro, trazer surpresas para as pesquisas médicas.
“O fato de termos encontrado uma nova espécie que usa essa peculiar ‘máquina do tempo’ levanta questões fascinantes sobre quão disseminada essa capacidade pode ser na árvore da vida animal”, ressaltou Soto-Angel.