Cientistas criam abrigos para borboletas-monarcas em vulcão durante sua migração

Redação SoCientífica

As borboletas-monarcas estão entre os migradores mais impressionantes do planeta. Todo outono, uma nova geração desses insetos laranjas e pretos nasce no norte dos Estados Unidos e no sul do Canadá. Eles então voam para as montanhas do centro do México, a uma distância entre 3.999 e 4.800 quilômetros. Em um esforço para ajudar essa migração extenuante, uma equipe de cientistas plantou novos locais de invernada ao longo das encostas de um vulcão mexicano. A técnica experimental foi descrita em um estudo publicado em 18 de outubro no periódico Frontiers in Forests and Global Change.

As borboletas passam o inverno nas florestas de abetos sagrados (Abies religiosa) em altitudes elevadas. No entanto, essas florestas, das quais as monarcas precisam para sobreviver à migração, estão em risco devido às mudanças climáticas. Prevê-se que as árvores se movam lentamente para cima nas encostas. Os cientistas estimam que por volta de 2090 elas ficarão sem espaço para crescer. A criação de novas florestas nas montanhas mais altas, mais a leste e fora da área geográfica atual dos insetos, pode ser uma solução.

Migração assistida

“Aqui, mostramos a viabilidade de plantar novas florestas de abetos sagrados em um vulcão próximo, o Nevado de Toluca, em altitudes entre 3.400 e 4.000 metros”, disse Cuauhtémoc Sáenz-Romero, coautor do estudo e biólogo da Universidad Michoacana de San Nicolás de Hidalgo no México, em um comunicado.

“Chamamos isso de ‘migração assistida’: plantar mudas cultivadas a partir de sementes de populações existentes de abetos sagrados em novos locais cujo clima em 2060 está previsto para se tornar semelhante ao dos locais de invernada de hoje devido ao aquecimento global”, disse ele.

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Plantio de mudas de Abies religiosa. Imagem: Cuauhtémoc Sáenz-Romero/UMSNH

Em 2017, a equipe deste estudo coletou sementes de cones de oito linhagens de abetos sagrados na Reserva da Biosfera da Borboleta Monarca (MBBR) do México. Essas árvores crescem em altitudes entre 3.100 e 3.499 metros. Nos primeiros dois anos, eles cultivaram as mudas em uma estufa a 1.900 metros de altitude. Em seguida, eles as cultivaram em um viveiro a 3.000 metros.

Em julho de 2021, a equipe transplantou as mudas para quatro locais na encosta nordeste do vulcão Nevado de Toluca. Eles escolheram o Nevado de Toluca porque é a montanha geograficamente mais próxima da MBBR, mas seu cume é cerca de 1.145 metros mais alto que a reserva de borboletas e é uma Área Natural Protegida. As mudas foram plantadas em quatro altitudes: 3.400, 3.600, 3.800 e 4.000 metros. Esta última altitude é a linha das árvores do Nevado de Toluca e foi incluída para que a equipe pudesse encontrar a altitude mais alta em que os abetos sagrados podem sobreviver no clima atual. A cada dois meses, entre setembro de 2021 e dezembro de 2023, a equipe mediu o desempenho de cada muda, ou seja, sua sobrevivência, altura e diâmetro.

Resultados promissores

Os pesquisadores descobriram que a sobrevivência e o crescimento diminuíram quando as mudas foram transplantadas para locais mais frios e mais altos do que o povoamento original na MBBR. Na altitude mais elevada de 4.000 metros, o crescimento foi aproximadamente nulo e muitas mudas apresentaram danos causados por geada. No entanto, entre 3.600 e 3.800 metros, as mudas tiveram 54% menos crescimento vertical, 27% menos biomassa e 27% menos sobrevivência do que na linha de base de 3.400 metros. De acordo com os autores, essa sobrevivência é “muito aceitável”.

“Esses povoamentos plantados podem, em última análise, servir como locais de invernada para a borboleta-monarca em climas mais quentes”, disse Sáenz-Romero.

“Na verdade, as borboletas-monarcas estabeleceram nos últimos anos novas e grandes colônias em locais mais frios dentro do Nevado de Toluca, o que sugere que elas já estão procurando novos lugares para passar o inverno, já que seus locais históricos dentro da MBBR agora são muito quentes. Assim que nossas mudas estiverem totalmente crescidas, esperamos que elas também descubram nosso local de plantio”, concluiu.

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