Europa é uma das dezenas de luas que acompanham o gigante e poderoso Júpiter. A sexta maior lua do sistema solar, e uma das quatro luas descobertas por Galileu Galilei, Europa fascina com toda a sua complexidade – e com a possibilidade de abrigar até mesmo a vida. Dentre essas complexidades que conhecemos, talvez exista mais uma: aparentemente Europa pode brilhar no escuro.
Em um estudo publicado no periódico Nature Astronomy, um grupo de cientistas analisa como os sair e o gelo da superfície de Europa interagem com o campo magnético jupiteriano. Seria algo semelhante aos fenômenos que causam as auroras – mas no caso de lá, os elétrons carregados interagem com a superfície o planeta, e não com a atmosfera.
Vejo Europa a brilhar
Na parte experimental do trabalho, os cientistas utilizaram em equipamento chamado espectrômetro. Com ele, eles entenderam quais são os comprimentos de onda dos materiais que compõem a superfície de Europa. Basicamente, um espectrômetro analisa as assinaturas luminosas de um material. Cada material reflete a luz com uma cor específica, principalmente em tons de verde e azul.
“Pudemos prever que esse brilho noturno no gelo poderia fornecer informações adicionais sobre a composição da superfície de Europa. A variação dessa composição poderia nos dar pistas sobre se Europa possui condições adequadas para a vida”, explica em um comunicado Murthy Gudipati, autor principal do estudo e cientista no Laboratório de Propulsão a Jato (JPL) da NASA.
Mas algo impressionou aos cientistas. Eles não imaginavam que o brilho variasse tanto. Em nenhum ponto a composição do gelo é a mesma. Embora os materiais sejam semelhantes, a quantidade de cada um se altera. Portanto, de acordo com a composição do gelo, o brilho muda.
“Mas nunca imaginamos que veríamos o que acabamos vendo”, explica Bryana Henderson, também do JPL-NASA, e co-autora do estudo. “Quando tentamos novas composições de gelo, o brilho parecia diferente. E todos nós apenas olhamos para ele por um tempo e então dissemos: ‘Isso é novo, certo? Este é definitivamente um brilho diferente?’ Então apontamos um espectrômetro para ele, e cada tipo de gelo tinha um espectro diferente”.
Análises mais completas
Então, para estudar as diferenças de brilho, os cientistas levaram o experimento um pouco a sério demais, e fizeram o que qualquer cientista dos filmes faria: construíram um novo instrumento, especialmente para estudar os brilhos. Chama-se ce Chamber for Europa’s High-Energy Electron and Radiation Environment Testing (ICE-HEART). A parte legal é que o acrônimo gigante significa ‘coração de gelo’ (Ice Heart).
Eles levaram, então, o ICE-HEART para uma outra unidade da NASA, onde há um feixe de elétrons de alta energia. Ao bombardear as diferentes composições de gelo com os elétrons, eles analisam os brilhos. “Ver a salmoura de cloreto de sódio com um nível de brilho significativamente mais baixo foi o momento ‘aha’ que mudou o curso da pesquisa”, diz Fred Bateman, um dos co-autores do estudo.
Assim como a nossa Lua brilha ao refletir a luz do Sol, todas as outras também o fazem. No entanto, a novidade, nesse caso, é brilhar no escuro. O lado oculto da nossa Lua é escuro, muito escuro. Mas o lado noturno de Europa continua a brilhar, mas de outra forma – ao invés de refletir a luz do Sol, emite a energia absorvida dos elétrons. Os cientistas estão felizes com a nova previsão, e animados para confirmar se Europa pode, de fato, brilhar no escuro.
“Não é sempre que você está em um laboratório e diz: ‘Podemos encontrar isso quando chegarmos lá’”, diz Gudipati. “Normalmente é o contrário – você vai lá, encontra algo e tenta explicar no laboratório. Mas nossa previsão remonta a uma simples observação, e é disso que trata a ciência”.
O estudo foi publicado no periódico Nature Astronomy. Com informações de IFL Science e JPL-NASA.