China finalmente autoriza a criação de um conselho nacional de ética científica

Damares Alves

Após o escândalo dos bebês editados por genes, a China finalmente está montando um comitê nacional de ética científica para monitorar cientistas.

O objetivo do comitê é fechar uma brecha que permite que experimentos questionáveis ​​sejam realizados no país.

Como foi o caso do pesquisador He Jiankui que surpreendeu o mundo quando anunciou o uso da tecnologia de edição de genes CRISPR-Cas9 para alterar os genes embrionários de meninas gêmeas.

A justificativa do pesquisador para o experimento foi conferir imunidade ao HIV aos embriões para evitar a infecção de seu pai, que é HIV positivo.

O comitê

Há muitos poucos detalhes sobre como a diretoria funcionará.

O bioeticista Qiu Renzong, que trabalha na Academia Chinesa de Ciências Sociais, em Pequim, afirma que o conselho vai fechar diversas lacunas regulatórias que permitiram que o Dr. He conduzisse seu trabalho, de acordo com reportagens da revista científica Nature.

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A Comissão Nacional de Saúde atualmente supervisiona a pesquisa em seres humanos para garantir que atenda aos padrões éticos.

Para todas as outras questões éticas, o Ministério da Ciência e Tecnologia é responsável pela supervisão.

O corpo proposto deve ser separado dos dois órgãos existentes e garantir que nenhum estudo escorregue pelas lacunas.

O caso das gêmeas

Em 2018, o Dr. He anunciou ao mundo via YouTube que tentou editar genes para a imunidade ao HIV em meninas gêmeas porque as infecções estão aumentando muito na China. Porém, os pais tiveram suas infecções suprimidas por medicamentos padrão para o HIV e existem outras maneiras mais simples de evitar que infectem os filhos sem alterar os genes.

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O real objetivo do experimento era oferecer aos casais afetados pelo HIV a chance de ter um filho que pudesse ser imune ao vírus.

Ele já foi demitido de seu posto na universidade e está sendo investigado pelas autoridades chinesas.

Cientistas de todo o mundo foram rápidos em condenar os experimentos do Dr. He quando surgiram notícias deles.

Um terceiro bebê

Ainda não se sabe se as ações da China serão suficientes para aplacar o clamor internacional sobre o ocorrido, mas a verdadeira escala das consequências da pesquisa do Dr. He ainda está se desdobrando.

No mês passado, um terceiro bebê cujo DNA foi editado como parte de uma série de experimentos já pode ter nascido, os especialistas temem.

O médico e especialista em ética William Hurlbut falou no inicio do ano sobre revelações de que o Dr. He havia alterado os genes de um terceiro embrião, que deve ter nascido em junho ou julho.

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Com o passar do mês de junho, o professor Hurlbut teme que a criança já tenha nascido – ou, se não tiver, que a China possa decidir mantê-la escondida quando isso acontecer.

“Um parto normal é de 38 a 42 semanas, e é bem próximo do centro disso”, disse o professor da Universidade de Stanford ao MIT Technology Review.

O professor Hurlbut não está sozinho em seus temores, com alguns pesquisadores prevendo que o secreto regime chinês nunca anunciará o nascimento da criança.

A edição de genes pode ter falhado

Especialistas analisaram os materiais que o Dr. He forneceu à AP e disseram que os testes até agora são insuficientes para afirmar se a edição funcionou ou não.

Eles também notaram evidências de que a edição estava incompleta e que pelo menos um dos gêmeos parece ser uma colcha de retalhos de células com várias mudanças.

Church e a Dra. Kiran Musunuru, uma especialista em edição de genes da Universidade da Pensilvânia, questionaram a decisão de permitir que um dos embriões fosse usado numa tentativa de gravidez, porque os investigadores chineses disseram que sabiam antecipadamente que ambas as cópias do gene pretendido não tinham sido alteradas.

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“Nessa criança, quase não havia nada a ser ganho em termos de proteção contra o HIV e, no entanto, você está expondo essa criança a todos os riscos de segurança desconhecidos”, disse Musunuru.

O uso desse embrião sugere que a principal ênfase dos pesquisadores foi em testes de edição, em vez de evitar essa doença, disse Church.

FONTE: Nature / MIT Technlogy Review / Daily Mail 

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