Algumas frutas e vegetais eram muito diferentes alguns séculos atrás. Conforme o ser humano domesticou plantas e animais, moldou tudo da maneira que quis. As cenouras, por exemplo, não eram nada como hoje. As cenouras eram roxas.
O formato era de cenoura, mas a aparência, de beterraba. Antes do século 17, até existiam cenouras laranjas, mas eram raras. As cenouras eram, mais comumente, roxas. Mas também havia algumas variedades amarelas e branca da raiz. Essas cenouras roxas podem ser chamadas, obviamente, de cenoura roxa ou de cenoura oriental.
As cenouras eram roxas
Rastreia-se o início da história da cenoura na Antiga Pérsia. Lá, cultivavam-se variedades roxas e amarelas da cenoura. Seu sabor doce era valorizado, e suas folhas eram usados como uma erva medicinal. Acredita-se que o uso que se fazia das folhas da cenoura era parecido com o uso que faz-se do coentro e da salsa hoje, por exemplo, como uma erva aromática. Utilizava-se, também, as sementes da cenoura na alimentação.
“Era uma raiz toda retorcida, lenhosa e com o sabor muito ruim”, explica sobre a antiga cenoura ao G1 o pesquisador o pesquisador Agnaldo de Carvalho, responsável pelo melhoramento genético de cenoura na Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária).
A cenoura e o príncipe Holandês
A história da cenoura é, basicamente, pautada pela seleção genética. Essa seleção genética ocorre conforme o ser humano cultiva o produto que possui alguma característica agradável.
“Provavelmente surgiram tipos um pouco mais alaranjados e os produtores foram selecionando esses e foram consultando essa cor até surgir o tipo laranja intenso”, explica Carvalho.
No meio dessa seleção genética, inclusive, há questões políticas envolvidas em torno da cor da cenoura.
Guilherme I de Orange-Nassau foi um impulsionador dos movimentos de independência dos Países Baixos, e foi ele quem deu origem à Dinastia de Orange. Durante o Século 16, ele assumiu o trono holandês.
Orange, na tradução para o português, significa laranja. Assim, o trono holandês exaltou a cor laranja como uma forma de propaganda política.
“Por uma questão nacionalista, eles acabaram adotando em larga escala as cenouras laranjas e isso prevaleceu e de fato tomou conta, é a principal em termos de cenoura”, explica Carvalho.
Segundo o ZME Science, outra vantagem do tom laranja de cenoura obtido pelos holandeses é a de que elas são mais resistentes à pragas, além de oferecer um melhor sabor.
Ou pode ser que essa história não tenha tanta verdade assim, e que a cenoura laranja pode ter sido selecionada pelos clientes por considerarem seu sabor mais agradável. Além disso, o fato de seu pigmento não se dissolver durante o cozimento, como é o caso da beterraba, também pode ter agradado aos consumidores.
Podemos dizer, então, que a seleção da cenoura laranja foi uma mistura de melhoria da produtividade, melhor sabor e um lobby político por uma Casa Real ascendendo.
Seleção genética
Muitas características de um ser vivo são passadas de geração em geração. É isso que permite a seleção genética em plantas em animais, melhorando a produtividade ou selecionando alguma característica que as pessoas consideram agradáveis.
Então, ao encontrar duas cenouras laranjas e cruzá-las, você terá, muito provavelmente, uma cenoura laranja. As cenouras eram roxas, mas com o tempo isso foi mudando.
“Se você fizer isso por décadas ou centenas de anos, você consegue sair de um amarelo claro e chegar no tom alaranjado, que é mais ou menos isso que aconteceu”, explica Carvalho.
A química
E do ponto de vista químico, o que dá a cor à cenoura? A cor alaranjada da cenoura é fornecida pelo catoreno, um pigmento que também é uma rica fonte de vitamina A.
Com menos caroteno e mais antocianinas (um antiácido presente em frutas e vegetais avermelhados, azuis e roxos). Além das cores, o caroteno e as antocianinas possuem propriedades nutricionais diferentes.
Então, comer uma cenoura roxa não é só comer algo com uma cor diferente, mas ter uma ajuda diferente para o corpo.