Câmeras flagram sanguessuga saltando pela primeira vez

Felipe Miranda
Imagem: FAHMY, M; TESSLER, M.

Pela primeira vez na história, uma câmera conseguiu flagrar uma sanguessuga saltando, confirmando uma especulação há mais de um século pensada por cientistas – a que de que o salto faz parte do meio de locomoção das sanguessugas.

As imagens são das sanguessugas da espécie Chtonobdella fallax. Capturado nas florestas de Madagascar, o vídeo demonstra que o parasita não é tão passivo assim quando se considerava, mas pode buscar por comida de maneira ativa.

“Houve relatos anteriores de sanguessugas saltando, inclusive em pessoas, mas esses relatos eram muitas vezes explicados como sanguessugas caindo de galhos ou se prendendo a transeuntes enquanto roçavam contra arbustos”, explica em um comunicado do Museu de História Natural de Londres a Dra. Mai Fahmy.

A Dra. Fahmy é autora principal do estudo que descreve a descoberta, e que foi publicado no periódico Briotropica.

“Este estudo dissipa esse argumento, e acreditamos que representa a primeira evidência convincente de que sanguessugas podem saltar e fazê-lo com gasto de energia visível”, diz a cientista.

Veja o vídeo da sanguessuga saltando

As sanguessugas são invertebrados, ou seja, não possuem ossos. Esses vermes viram os dinossauros, e possuem mais de 266 milhões de anos.

Como o próprio nome diz, as sanguessugas se alimentam de sangue do hospedeiro e, portanto, são parasitas. Entretanto, algumas espécies podem comer pequenos animais, como pequenos caracóis.

Pela falta de um esqueleto rígido, elas podem beber grandes quantidades de sangue do hospedeiro. Suas ferramentas também incluem afiados dentes para grudar ao hospedeiro e uma espécie de agulha que utiliza para perfurar a pele.

“Ao contrário das minhocas, que têm apenas dois conjuntos de músculos para sustentar o corpo, as sanguessugas têm um terço que lhes dá um pouco mais de apoio”, explica Emma Sherlock. “Isso permite que eles mantenham a cabeça erguida e se agarrem à borda das folhas.”

Sherlock cuida das coleções de sanguessugas do museu.

“Eles ficam ali, balançando e usam os sentidos para detectar quando os animais estão chegando”, diz.

No vídeo em que podemos ver a sanguessuga saltando, pode-se também, observar essas características apresentadas por Sherlock.

Sanguessuga saltando. Acreditava-se, antes, que elas emboscavam seus hospedeiros até cair de uma folha de árvore, por exemplo. Entretanto, as evidências demonstram que elas movimentam-se ativamente, provando um ponto explorado no último século, mas que ainda não tinha fortes evidências. Imagens: FAHMY, M; TESSLER, M.

Há, também, um segundo vídeo sobre a movimentação da sanguessuga. Veja abaixo:

Imagens: FAHMY, M; TESSLER, M.

“Os anelídeos [minhocas, sanguessugas e seus parentes] são animais realmente musculosos, então não é totalmente surpreendente que eles possam fazer isso”, explica Emma no comunicado. “Eles precisam desses músculos, pois em vez de ossos, eles usam músculos e fluidos para se manterem rígidos, mas não percebemos que eles tinham esse tipo de mola neles”.

Os vídeos abordam especificamente as sanguessugas da espécie Chtonobdella fallax. Entretanto, os cientistas dizem que é provável que as outras espécies também possam saltar.

Os cientistas esperam, com a descoberta, entender exatamente de quais animais as sanguessugas se alimentam, pois aliando o fato de elas saltarem com outras análises possíveis, eles podem identificar as refeições favoritas do verme.

“O conteúdo do estômago de uma sanguessuga pode revelar alguns dos vertebrados que vivem nas proximidades”, explica Mai. “Se pudermos identificar como as sanguessugas encontram e se ligam aos hospedeiros, podemos entender melhor os resultados de suas análises de conteúdo intestinal.”

As minhocas, por exemplo, também podem saltar. Elas utilizam outro método, mas também saltam.

“Diferentes espécies de minhocas têm maneiras diferentes de se afastar de seus predadores, desde deixar suas caudas para trás até esguichar um líquido amarelo e fedorento”, diz Emma. “Acho que o salto é provavelmente apenas mais uma técnica que eles usam, pois assusta o predador, além de dar ao verme uma vantagem para escapar.”

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