O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), criado em 1930, é o órgão responsável pelo cálculo do Produto Interno Bruto (PIB) no Brasil. O PIB, por sua vez, é um indicador econômico utilizado em diversos países para medir a riqueza produzida no local em determinado período — a cada ano, por exemplo. Contudo, o avanço econômico tem destruído a natureza, de acordo com o relatório encomendado pelo HM Treasury — Ministério Econômico e Financeiro do Reino Unido.
Retornando ao PIB, a ferramenta indica possíveis crescimentos e fragilidades econômicas através do cálculo de todos os bens, investimentos, gastos do governo e serviços finais. Desse modo, ele se mostra como o principal meio de se medir o nível econômico de uma população. Caso não se produza nada no intervalo de tempo em que o cálculo é feito, o PIB é zero.
No entanto, uma das críticas fundamentadas pelo relatório é que a natureza, enquanto ativo, não entra no cálculo do PIB, visto que ela é uma riqueza essencial à vida.
Natureza como ativo
The Dasgupta Review explica no relatório que a natureza é um ativo para os humanos, da mesma forma como são os edifícios, as estradas e o conhecimento. Isso porque a nossa dependência diante da natureza é intrínseca; afinal, necessitamos de água, oxigênio, comida e outros recursos para a sobrevivência.
Além da necessidade, a natureza é um ativo que tem valor por si só, pois quando a experienciamos, certamente tendemos a gostar. Dessa forma, o relatório liderado pelo economista professor Sir Partha Dasgupta evidencia a negligência em que, especialmente o Ocidente, lida com a natureza nas questões econômicas, excluindo-a.
Nesse sentido, a revisão sobre a falha da máquina financeira, no sentido de como a natureza é tida em todo o mundo, pode ajudar no desenvolvimento de um novo sistema: no qual o avanço econômico não seja inimigo dos recursos ofertados pela terra.
“Preço devastador”
Na medida em que a natureza é um ativo, os governos priorizam totalmente o avanço econômico em detrimento dos recursos provenientes da natureza. O progresso é medido tendo em vista apenas a economia.
Por conseguinte, a prosperidade desfrutada pelas pessoas nas últimas décadas teve um “preço devastador”, como assinala The Dasgupta Review, pois embora o padrão de vida seja mais alto, a diversidade biológica tem diminuído rapidamente.
A falha institucional, como chama o professor Sir Dasgupta, corresponde à degradação da natureza de modo desenfreado, como se os recursos fossem duradouros. Acerca do assunto, ele comenta: “O crescimento e desenvolvimento econômico sustentável exige que tomemos um caminho diferente, onde nossos compromissos com a natureza não sejam apenas sustentáveis, mas também melhorem nossa riqueza e bem-estar coletivos e de nossos descendentes.”
Áreas de mudança
Apenas mudanças transformadoras serão capazes de modificar o cenário. É necessário que haja a correlação entre avanço econômico e natureza, pois sem esta última, não é possível ter qualidade de vida e, sequer, viver plenamente. Dessa maneira, exigir demais da natureza, escasseando os recursos, significa arriscar a nossa sobrevivência e a vida das próximas gerações.
Quais seriam então as mudanças necessárias? Sir Dasgupta propõe três áreas de mudança:
1 – As demandas humanas não devem exceder as ofertas da natureza;
2 – O sucesso econômico deve ser repensado – como modificar a forma de medir as riquezas dos países, incluindo todos os ativos;
3 – Modificar os sistemas educacionais e financeiros – com a implementação de políticas públicas que protejam a natureza de forma definitiva e atuante, bem como a disseminação da prática de reciclar, reutilizar e compartilhar.
Vale destacar, ainda, o valor econômico da natureza, uma vez que países pobres dependem mais diretamente da natureza. O capital natural, portanto, deve ser melhor conservado e restaurado, pois é um dos meios de se superar a pobreza, ou ao menos, aliviá-la.