Brasileiros criam sensor biodegradável que detecta pesticidas em alimentos

Damares Alves
Imagem: Agência Fapesp/Reprodução

Em um passo significativo para aumentar a segurança alimentar, uma equipe de cientistas brasileiros desenvolveu um sensor inovador que adere à superfície de frutas e vegetais para detectar a presença de pesticidas nocivos. Esse sensor, construído a partir de acetato de celulose, não só representa um avanço para garantir que os produtos consumíveis estejam livres de substâncias perigosas, mas também se alinha à sustentabilidade ambiental devido à sua natureza biodegradável.

Como as preocupações com o impacto dos agroquímicos sobre a saúde e o meio ambiente aumentam em meio aos desafios globais de segurança alimentar, esses avanços são bastante promissores. A eficácia e a possível aplicação desse sensor foram detalhadas em uma publicação recente na Biomaterials Advances, destacando a interseção de tecnologia, ecologia e bem-estar.

Em meio às preocupações com a disseminação não intencional de pesticidas, que tradicionalmente não atingem totalmente seus alvos, os pesquisadores fizeram avanços significativos. Embora os métodos usados anteriormente para avaliar os resíduos de pesticidas dependam de procedimentos laboratoriais detalhados, aparelhos caros, operadores especializados e duração extensa da análise – sem mencionar a geração de resíduos tóxicos —, foi desenvolvida uma alternativa nova e ambientalmente consciente.

Paulo Augusto Raymundo Pereira, cientista do Instituto de Física de São Carlos, apresentou um sensor eletroquímico compatível com plantas que promete detecção rápida, econômica e altamente seletiva de pesticidas diretamente nas plantações. Essa inovação se destaca por sua operação simples e pela capacidade de ser produzida e utilizada no local. Além disso, ele foi criado para aderir confortavelmente às superfícies de frutas, vegetais e folhagens, funcionando efetivamente como um dispositivo vestível para plantas.

Uma vantagem fundamental dessa nova técnica é sua compatibilidade com o meio ambiente, decorrente de seu principal componente, o acetato de celulose, extraído de matéria vegetal. Ao contrário das substâncias derivadas de produtos petroquímicos que permanecem no meio ambiente, esse material de origem vegetal se decompõe em menos de um ano, reduzindo, consequentemente, as pegadas ecológicas. Em termos de funcionalidade, o substrato preserva as principais características do sensor, como portabilidade e adaptabilidade.

O processo de produção da plataforma de acetato de celulose é chamado de fundição, em que a substância é moldada em um molde. Posteriormente, eles integraram as partes essenciais do sensor eletroquímico, composto por três eletrodos, para completar o sistema.

Para testar os recursos do sensor, os cientistas aplicaram sprays contendo carbendazim e paraquat – substâncias que atuam como fungicida e herbicida, respectivamente – em superfícies de plantas de alface e tomate. Embora a União Europeia tenha proibido o paraquat em 2003 devido às suas implicações prejudiciais à saúde, sua aplicação persiste em países como o Brasil. Os pesquisadores confirmaram que o sensor detectou os níveis de pesticidas nessas plantações com uma precisão comparável à do polietileno tereftalato, um padrão em materiais de sensores.

Outras pesquisas se concentraram na avaliação da redução desses produtos químicos por meio de métodos típicos de limpeza. A imersão dos vegetais em água por algumas horas resultou em uma modesta redução na concentração de resíduos. Especificamente, as medições pós-lavagem mostraram que 60% do paraquat na alface e 64% do mesmo no tomate foram removidos. No entanto, uma parte do fungicida, o carbendazim, mostrou-se mais tenaz, agarrando-se aos vegetais com pelo menos 40% persistindo após a lavagem. “Os métodos de lavagem e imersão claramente não foram suficientes para eliminar os resíduos de pesticidas. Pelo menos 10% permaneceram na casca ou nas folhas”, observou o pesquisador Paulo Augusto Raymundo Pereira.

Para as autoridades de saúde e o setor de produtos orgânicos, essa tecnologia promete uma nova ferramenta para certificar as plantações como livres de pesticidas. Sua aplicação também se estende aos agricultores que desejam monitorar e controlar a aplicação de pesticidas em suas plantações, minimizando assim o uso de produtos químicos. Essas medidas regulatórias poderiam reforçar a qualidade das colheitas e, ao mesmo tempo, ajudar a reduzir os custos para o consumidor.

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