Brasil e outros 19 países são responsáveis ​​por quase 70% da produção de resíduos plásticos

Daniela Marinho
Imagem: Canva

O plástico, embora tenha uma função indispensável na sociedade moderna, é um problema ambiental. Nesse contexto, os países em desenvolvimento estão se tornando os principais focos de poluição por plástico, conforme novas pesquisas destacam as desigualdades globais no combate a essa grave problemática.

Utilizando dados reais para modelar o descarte de resíduos em diferentes nações, um grupo de pesquisadores da Universidade de Leeds, na Inglaterra, estimou que mais de 52 milhões de toneladas de resíduos plásticos são descartadas no meio ambiente a cada ano. Os resultados do estudo foram publicados na revista Nature.

Surpreendentemente, aproximadamente 70% desse total é proveniente de apenas 20 países, onde uma quantidade de lixo plástico gerado supera a capacidade de tratamento e gestão. Nações como Índia, Nigéria e Indonésia lideram a lista de países onde os maiores volumes de resíduos plásticos estão sendo lançados no meio ambiente, exacerbando a crise de poluição global.

Tratado global sobre plástico

Na medida em que as discussões para um tratado global sobre o plástico se aproximam de seus projetos finais, os cientistas responsáveis ​​pelo estudo estão engajados para garantir que a questão da gestão de resíduos não seja negligenciada. Josh Cottom, autor principal da pesquisa, destaca que todos devem ter o mesmo direito de viver em um ambiente limpo e saudável.

Ele ressalta que mais de 1,2 bilhão de pessoas no mundo não têm acesso a serviços básicos de coleta de lixo, o que as força a lidar com os resíduos de maneira improvisada. Muitas vezes, isso significa despejar o lixo em terrenos baldios, rios ou queimá-lo em fogueiras a céu aberto.

“Os riscos à saúde resultantes da poluição plástica afetam algumas das comunidades mais pobres do mundo, que são impotentes para fazer algo a respeito. Ao melhorar a gestão básica de resíduos sólidos, podemos reduzir massivamente a poluição plástica e melhorar a vida de bilhões”, acrescenta Cottom.

Dada a magnitude desse problema, 175 países chegaram a um consenso em março de 2022 para começar a elaborar um tratado com o objetivo de combater a poluição plástica. O problema é tão sério que as negociações estão avançando rapidamente e a previsão é de que o acordo seja finalizado até dezembro de 2024.

Preocupações sobre o quanto o plástico afeta o planeta

Conforme os cientistas passaram a entender mais profundamente o impacto do plástico no planeta, as preocupações com esse material cresceram de maneira expressiva.

O plástico presente no meio ambiente é geralmente classificado em duas categorias. Os microplásticos, partículas minúsculas de menos de cinco milímetros, já foram detectados em praticamente todos os lugares: nas nuvens, na água e nos solos, além de estarem presentes em organismos de seres humanos, animais e plantas.

Embora ainda não se compreenda totalmente os efeitos de longo prazo dos microplásticos na saúde, estudos preliminares indicam que eles podem contribuir para a disseminação de doenças, alterar a química do sangue e influenciar a memória.

Já os pedaços maiores, chamados de macroplásticos, que possuem mais de cinco milímetros, são a forma mais visível da poluição plástica. Esses maiores bloqueiam os rios, ameaçam a vida selvagem ao aprisioná-la e liberam fragmentos de moléculas e substâncias químicas que podem interferir nos hormônios.

Diferentes formas de poluição

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Os 10 países que são pontos críticos de poluição por plástico. O Brasil é o 8º, com uma produção anual de 1,4 milhões de toneladas. Ilustração: Dr Angeliki Savvantoglou de Bear Bones

Os pesquisadores estimam que, em 2020, 79% do plástico descartado foi “gerenciado”, ou seja, reciclado, incinerado ou enviado para aterros. Contudo, isso não garante que seja ecologicamente seguro.

Cerca de metade do plástico vai para aterros, o que gera poluição do ar, da água e libera gases de efeito estufa. Outro quinto é incinerado, o que, apesar dos filtros, ainda libera poluentes que afetam a qualidade do ar.

Apenas 9% do plástico é reciclado anualmente, e esse número só deve dobrar até 2060. O estudo destaca a necessidade de melhorar os sistemas de reciclagem e reduzir a produção de plástico. Já 21% dos resíduos plásticos são considerados “não gerenciados”, isto é, acabam poluindo o meio ambiente ao serem descartados ou queimados descontroladamente, gerando uma verdadeira crise de saúde pública.

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