“Bestas do Trovão”: mamíferos gigantes habitaram a Terra logo após os dinossauros

Elisson Amboni
Imagem: Oscar Sanisidro

Fósseis de gigantescos mamíferos extintos conhecidos como brontotheres, também chamados de ‘bestas do trovão’, nos levam a uma jornada surpreendente através do tempo, revelando um caminho evolutivo para o gigantismo que não segue as regras que costumamos aceitar.

De acordo com um estudo recente publicado na Science, os brontotheres, semelhantes aos rinocerontes, percorreram uma estrada evolutiva sinuosa para o gigantismo. Essas criaturas impressionantes não seguiram uma rota direta para o grande porte, ao invés disso, evoluíram para tamanhos maiores e menores ao longo de seus 22 milhões de anos de existência.

Aqui está a reviravolta: os maiores brontotheres, aparentemente, habitavam nichos ecológicos menos densamente povoados em comparação com seus parentes menores. Como resultado, eram menos propensos à extinção, o que pode explicar a tendência geral do grupo para corpos maiores ao longo do tempo.

“O mundo evolutivo é mais complexo do que o darwinismo puro nos diria”, afirma o paleobiólogo Juan Cantalapiedra, da Universidade de Alcalá, em Madri. Essas descobertas contestam o mundo organizado e previsível proposto pelo darwinismo, no qual os mais bem adaptados sobrevivem.

Os primeiros passos dessas ‘bestas do trovão’ foram modestos. Quando surgiram nas exuberantes florestas da antiga América do Norte e Ásia, no início da Época Eocênica, há cerca de 56 milhões de anos, eram do tamanho de um border collie. No entanto, em um período de 16 milhões de anos, esses mamíferos acabaram se tornando em uma família de gigantes.

Essa descoberta desafia a regra de Cope, que sustenta que indivíduos maiores de uma única espécie têm uma vantagem de aptidão sobre os menores. A nova pesquisa sugere que os brontotheres seguiram um caminho evolutivo diferente para o gigantismo.

Ao analisar os fósseis, Cantalapiedra e seus colegas descobriram que as espécies de brontothere geralmente permaneciam aproximadamente do mesmo tamanho até se dividirem em novas espécies. Como as espécies menores se ramificavam e se extinguiam com mais frequência, os brontotheres em geral tendiam a ficar maiores com o tempo.

Esta reviravolta surpreendente na história evolutiva sugere que o caminho para o gigantismo dos brontotheres foi marcado por uma ecologia diferente e não necessariamente porque os indivíduos maiores tinham uma vantagem sobre os membros menores de sua própria espécie.

Essa revelação não apenas redefine nossa compreensão da evolução do gigantismo em mamíferos, mas também levanta questões mais amplas sobre como ocorrem mudanças evolutivas drásticas.

Em vez de adotar a abordagem gradualista da seleção natural à la regra de Cope, parece que transformações significativas ocorreram quando processos ecológicos ou ambientais em grande escala influenciaram o curso da evolução. Comparando a árvore genealógica dos brontotheres a um bonsai, Cantalapiedra sugere que o mecanismo é como permitir que os galhos do bonsai se dividam normalmente, mas “cortando galhos de um lado”.

A tendência dos brontotheres para tamanhos colossais parece sugerir que eles prosperaram em um mundo onde havia menos herbívoros grandes. Os menores brontotheres, ao contrário, enfrentavam uma competição mais acirrada em comparação com seus parentes gigantes.

Ryan Felice, biólogo evolucionista da University College London, que não esteve envolvido no estudo, propõe que seria interessante verificar se o mesmo padrão vale para outros grupos de animais de grande porte. Ele também sugere a incorporação de dados paleoclimáticos na análise para procurar possíveis ligações entre as mudanças no clima e a evolução dos mamíferos, padrões que poderiam sugerir possíveis efeitos evolutivos das mudanças climáticas modernas.

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