Baterias de carros elétricos são novas fontes de poluição química permanente

Felipe Miranda
Imagem: Ivan Radic

As baterias utilizadas hoje nos smartphones, notebooks e carros elétricos são de íons de lítio. Embora ainda não sejam perfeitas, são muito melhores e mais eficientes do que as baterias mais antigas, armazenando muito mais energia e permitindo tudo o que fazemos com ela no dia a dia.

Segundo o grupo Iberdrola, as baterias de íons de lítio sofreram uma redução de 85% em seu custo de produção desde o ano de 2010. Assim, esse tipo de bateria se tornou um componente-chave na produção de carros elétricos, já que com um preço reduzido e uma boa capacidade, permite uma autonomia aceitável.

Entretanto, o mundo tem percebido que, ao menos no momento, os carros elétricos não são tão ‘eco-friendly’ assim, já que apesar de não ocorrer a emissão de poluentes pelos automóveis, há sérios custos ambientais na produção desses carros, e uma das principais polêmicas é a bateria de lítio.

Agora, um novo estudo publicado em acesso aberto por uma equipe de pesquisadores no periódico Nature Communications analisou um pouco do impacto da liberação de alguns componentes químicos das baterias de íons de lítio.

“Os resultados ressaltam que os impactos ambientais da infraestrutura de energia limpa merecem escrutínio para garantir que o CO reduzido2 as emissões não são alcançadas à custa do aumento das emissões globais de poluentes orgânicos persistentes”, explica a equipe no abstrato do artigo.

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Baterias de carros elétricos podem poluir mais do que você imagina. Imagem: Creazilla.

Baterias de carros elétricos podem poluir mais do que você imagina, em termos químicos, segundo esse novo estudo. O principal objeto de análise do estudo são substâncias químicas chamadas de substâncias per e polifluoroalquil (PFAS).

“Substâncias per e polifluoroalquil (PFAS) são compostos antropogênicos que têm sido usados em inúmeros produtos e processos industriais e de consumo”, dizem os cientistas no artigo.

As mais de 9000 PFAS são utilizados em produtos antiaderentes, impermeáveis e resistentes à manchas. Entretanto, há um uso além disso – no setor de energia.

“Estudos observaram usos de PFAS no setor de energia, incluindo revestimentos de moinhos de vento, semicondutores, coletores solares e células fotovoltaicas1. Literatura e patentes também documentam o uso de PFAS como eletrólitos em baterias recarregáveis de íons de lítio (LiBs)”, explicam os cientistas.

O problema é que essas substâncias não são inofensivas. Elas levam milhares de anos para se decompor e se acumulam rapidamente no meio ambiente. Além disso, estudos associam elas a danos no fígado, além de problemas de colesterol, problemas nos rins e até problemas neonatais.

Dado que um dos principais problemas dos carros elétricos é a dificuldade no descarte das baterias, temos aí um grande problema. Por isso as baterias de carros elétricos podem poluir mais do que você imagina.

“Até 96% do bis-FMeSI [uma substância utilizada nas baterias] é recuperável, mas estudos estimam que apenas 5% das LIBs [baterias de íons de lítio] são recicladas, o que poderia produzir uma projeção de 8 milhões de toneladas de resíduos LiB até 2040”, dizem os pesquisadores.

O descarte e a reciclagem das baterias podem, assim, liberar esses compostos químicos no meio ambiente.

“Em suma, há potencial para liberações ambientais generalizadas de PFAS, como o bis-FMeSI, durante a fabricação de eletrólitos, fluoropolímeros e LiBs e também durante o uso, reciclagem e descarte do produto. Os LiBs são usados em todo o mundo, por isso esta é uma questão de preocupação global”, relatam os pesquisadores.

Na Europa e nos EUA, foram encontrados níveis muito mais altos do que as agências pelo mundo permitem de bif-FASIs, uma das PFAS, em água potável. Os cientistas dizem que “75 amostras de água superficial, 5 de torneira, 2 subterrâneas, 1 de neve, 15 de sedimentos e 21 de solo foram coletadas de 87 locais de amostragem”.

Os cientistas relatam, de acordo com os dados coletados e dados registrados na literatura científica, que a emissão dos PFAS nas águas é global, tanto para água salgada, quando para água potável. Eles explicam, ainda, que “mesmo concentrações relativamente baixas serão motivo de preocupação para vertebrados e invertebrados aquáticos”.

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