O baiacu de pintas brancas do Japão já era conhecido por produzir padrões complexos e anelados na areia. Agora, os cientistas descobriram outras dezenas dessas criações na Austrália.
Durante a realização de um levantamento da vida marinha feito na plataforma da Austrália pelo ecologista marinho Todd Bond, ele detectou um padrão impressionante ao fundo do mar. A mais de 100 metros de profundidade, ele conta que imediatamente soube o que era.
Bond e seus colegas continuaram a pesquisa e encontraram quase duas dúzias de outros anéis.
Círculos nas plantações submarinas
Até o momento, apenas na costa do Japão haviam sido encontrados esses círculos nas plantações.
Localizados pela primeira vez na década de 1990, o mistério de quem os criou durou duas décadas. Apenas em 2011, os cientistas encontraram os escultores: machos pequenos do que seria uma nova espécie de baiacu Torquigener.
Os padrões são ninhos arados detalhadamente ao longo dos dias e decorados com conchas para atrair as fêmeas a depositar seus ovos no centro. Ainda não há nenhuma confirmação também em vídeo de que o baiacu esteja construindo esses ninhos na Austrália, mas as estruturas são quase idênticas as do Japão. Embora não haja essa confirmação, quando um cientista implantou o sistema de vídeo subaquático na área, ele pousou diretamente no topo de um círculo e capturou imagens de um pequeno baiacu saindo da formação.
Outro detalhe é que os círculos subaquáticos australianos ficam em águas muito mais profundas se comparado aos anéis do Japão – 130 metros de profundidade.
No Japão, esses círculos estão a cerca de 30 metros.
Portanto, o baiacu australiano conhecido na área costuma habitar águas mais rasas, o que levanta a questão sobre a identidade das espécies responsáveis.
Identificação definitiva
Por enquanto, Bond diz que as imagens capturadas são muito ruins para fazer a identificação.
Ou seja, os círculos podem ser feitos pela mesma espécie que constrói os ninhos no Japão (baiacu-de-manchas-brancas) ou existe a possibilidade de ser uma espécie local diferente, totalmente nova para a ciência.
Elisabeth Forgsgren, ecologista comportamental do Instituto Norueguês de Pesquisa da Natureza, disse ser surpreendente encontrar esses círculos em uma profundidade onde não há luz.
Se os ninhos são mesmo um sinal para atrair as fêmeas, pode ser difícil que elas enxerguem em um local tão escuro.
Em última análise, Bond também relata que essa descoberta levanta mais questões que podem ajudar a entender a evolução dos peixes-balão, já repleto de curiosidades. Eles são os vertebrados mais tóxicos da Terra e perderam completamente as suas costelas e ossos pélvicos para abrir espaço quando inflam com a água.
Entre as perguntas que ficam, uma delas é: se os círculos australianos são formados por outra espécie, diferente da espécie japonesa, os dois peixes evoluíram então separadamente?
Bond conclui que há muito a descobrir sobre os baiacus e é também um pouco assustador. “Este é um reflexo, obviamente, de uma parte fundamental para a reprodução de talvez uma nova espécie, mas simplesmente não sabemos nada sobre isso.”
Pesquisa publicada no Journal of Fish Biology.