Já relatamos aqui sobre alguns experimentos relacionados à panspermia, ou seja, a propagação da vida pelo universo, através de caronas involuntárias através de asteroides. Comumente, esse experimentos analisam a capacidade de bactérias em sobreviver ao espaço – que oferece condições nada favoráveis à vida, como o vácuo, a radiação e as baixas temperaturas -, por exemplo, mantendo bactérias do lado de fora da ISS (Estação Espacial Internacional).
Os humanos já sofrem dentro da estação. Embora um pouco menor, dentro da estação a exposição à radiação ainda é grande, além da microgravidade. Portanto, os astronautas sofrem diversos problemas de saúde, como alterações no DNA, no microbioma intestinal, na estrutura do cérebro, além de problemas de visão, perda de massa óssea e perda de massa muscular. Mas estar na parte externa é ainda pior.
Antecedentes
Em 1956, Arthur Anderson queria testar a segurança de se esterilizar carne enlatada utilizando raios gama. Acreditava-se que nenhum ser vivo sobreviveria. Então, a ideia era a ser eficiente, mas os cientistas não sabiam a segurança do consumo. Mas quando Anderson expôs a carne aos raios gama, a carne ainda apodreceu, e ele descobriu a bactéria Deinococcus radiodurans.
Desde então, os cientistas se fascinam por estudar a sobrevivência da bactéria em ambientes extremamente prejudiciais à vida. E é exatamente isso que um novo estudo fez, com seus resultados publicados no periódico Microbiome. O cientistas depositaram células da Deinococcus radiodurans na Exposed Facility, um módulo utilizado especialmente para a exposição de objetos ao espaço.
Eles não bateram algum recorde, nem fizeram algo impressionante de mais. Em um estudo anterior, uma outra equipe manteve as bactérias por três anos no espaço. No entanto, eles estudavam conceitos de panspermia. A abordagem da nova equipe, então, é diferente, e a coleta de dados deles possui outra função.
O estudo, em específico, não possui relação com a panspermia, mas algo mais plausível e palpável. “À medida que os humanos continuam a conquistar os domínios do sistema solar, a compreensão dos mecanismos moleculares de sobrevivência no espaço exterior torna-se cada vez mais importante”, conforme descrevem os pesquisadores no artigo. Eles também falam sobre as preocupações com as proteções naturais dos planetas contra a radiação – fator essencial para o desenvolvimento da vida.
Resultados
“Essas investigações nos ajudam a entender os mecanismos e processos pelos quais a vida pode existir fora da Terra, ampliando nosso conhecimento de como sobreviver e se adaptar no ambiente hostil do espaço sideral” explica em um comunicado a autora correspondente do estudo, Tetyana Milojevic, chefe do grupo de Bioquímica Espacial da Universidade de Viena.
Depois de manter as células das bactérias expostas por um ano, os cientistas as trouxeram de volta para a Terra e as análises de iniciaram. Já de cara, os cientista notaram espécies de “vesículas” que formaram-se na superfície da colônia de células.
Além disso, formaram-se mecanismos de reparos e alguns tipos de proteínas e RNAm (RNA mensageiros) tornaram-se mais abundantes. Isso significa que as células das bactérias atuaram ativamente para sobreviver à radiação. Diversos mecanismos de sobrevivência já existiam e ativaram-se para proteger as células.
“Os resultados sugerem que a sobrevivência de D. radiodurans em LEO por um período mais longo é possível devido ao seu sistema de resposta molecular eficiente e indica que viagens ainda mais longas e mais distantes são alcançáveis para organismos com tais capacidades”, complementa Milojevic, explicando as aplicações das bactérias do lado de fora da ISS.
Além das buscas pela vida fora da Terra, conforme destacou Milojevic em uma frase anterior, os cientistas descrevem no estudo as aplicações desses dados em novos parâmetros e técnicas de esterilização de missões espaciais. Quando uma sonda pousa em outro planeta, ela passa por uma rigorosa esterilização para correr o risco de não contaminar outros locais com a vida da Terra.
O estudo foi publicados no periódico Microbiome. Com informações de Science Alert e Universität Wien.