As redes sociais e os jovens – mais complexo do que se pensava

Wesley Oliveira de Paula

A relação entre redes sociais e os mais jovens se mostrou mais complexa do que se pensava. Pode parecer contraditório, afinal, sempre vemos as críticas a nova geração e a forma como estão inseridas nas redes sociais e celulares em geral.

De fato, essa preocupação possui algum embasamento científico, entretanto, com uma análise mais profunda das pesquisas nessa área podemos notar facilmente erros na metodologia.

O exagero de sempre.

“Dar um tablet para uma criança é o mesmo que dar cocaína ou álcool” “Os smartphones podem ter destruído uma geração”

Esse tipo de manchete rodeia a internet, e com o costume atual de ler apenas títulos, as pessoas tendem a levar tais chamadas como verdades absolutas. Se tratando dos mais velhos é algo ainda pior, pois manchetes do tipo confirmam o viés que já possuem.

Além dos exageros em troca de visualizações, boa parte dos artigos que respaldam as notícias possuem erros em sua metodologia, ou tiram conclusões rápido de mais.

Correlação pouco evidenciada.

Boa parte das pesquisas feitas sobre o assunto observam pessoas por um período de tempo específico, o que já pode ser considerado uma variável para os resultados. Muitas vezes tentam relacionar o uso de uma rede social ou o uso de celulares com algum transtorno mental.

O problema desse tipo de metodologia é colocar um evento como resultado de outro sem observar as inúmeras variáveis que podem alterar o resultado.

Medir o uso do Instagram com um grupo de pessoas, e notar que, as mais “viciadas” possuem maiores traços de depressão, sem levar em conta outras características como por exemplo: Idade, estilo de vida, condição financeira, acesso a cultura, relações familiares e até mesmo a situação inversa.

A ordem altera o resultado.

Em um estudo com quase 600 adolescentes e mais de 1.000 jovens adultos, os resultados mostraram que diferente da maioria das conclusões anteriores, o uso de redes sociais e celulares não causa necessariamente depressão, pelo contrário, meninas (o estudo cita o gênero específico. Pode estar relacionado com uma questão social) que já tinham traços de transtornos utilizavam mais os celulares.

Nem tudo são flores

Apesar dos erros metodológicos e as notícias alarmantes, o problema do uso excessivo de redes sociais e celulares é algo para se preocupar, e os estudos mais recentes alertam para necessidade de pesquisas menos enviesadas e mais científicas.

Mesmo contendo algumas das falhas citadas antes, a pesquisa da professora de psicologia Jean Twenge, da Universidade Estadual de San Diego, mostra que o uso excessivo de redes sociais e celulares aumentam de forma considerável a chance de problemas de saúde mental e relações sociais.

Na pesquisa, Twenge usou o lançamento do Iphone em 2007 como ponto chave para fazer as comparações comportamentais. Dos resultados, os mais interessantes mostram que desde 2007, adolescentes têm se sentido melhores sozinhos, e ainda, sentem menos necessidade de dormir (o estudo leva em consideração um valor de 7 horas de sono).

A geração atual foi prejudicada?

A conclusão mais honesta atualmente é simplesmente a dúvida. Fazendo essa revisão nos artigos anteriores sobre o assunto, podemos perceber que boa parte dos resultados não podem ser levados como conclusivos.

O mais responsável no momento é deixar de lado os exageros e levar em conta que temos uma via de mão dupla. Da mesma forma como as drogas que usamos funcionam, a diferença entre um veneno e um remédio se dá na dosagem e o indivíduo que faz o seu uso.

Portanto, sabemos que uso de redes sociais têm seus benefícios, trazem conhecimento, comunicação, avanços, e ao mesmo tempo podem trazer complicações sociais. Como usuários a preocupação dever ser em que tipo de conteúdo estão sendo consumidos e não necessariamente a quantidade.

FONTES / Medium / Igen / US National Library of Medicine / Scientific American

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