As formigas que cultivam fazendas de fungos e pulgões

Mateus Marchetto
As formigas-cortadeiras são insetos extremamente habilidosos em uma habilidade peculiar: a agricultura. (Nghang Vũ/Pixabay)

As formigas são insetos extremamente numerosos. Inclusive, estima-se que 20% da biomassa da terra é feita de formigas. Contudo, para sobreviver ao longo de milhões de anos as formigas desenvolveram algumas estratégias. Algumas espécies inclusive inventaram agricultura muito antes de nós humanos. Em geral, essas espécies cultivam fazendas de fungos.

Existem diversas espécies de formigas-cortadeiras. Elas são aquelas formigas que carregam pedaços de folhas e galhos em fila indiana. Entretanto, não pense que as formigas comem essas folhas. Na verdade elas usam esse material para alimentar os fungos em seus ninhos. Além do mais, as formigas sabem exatamente como cuidar de suas fazendas de fungos.

Como as formigas mantém suas fazendas de fungos

O que ocorre entre os fungos e as formigas é uma simbiose. Ou seja, ambos se beneficiam pela interação. Isso ocorre pois os fungos digerem certos alimentos que as formigas não conseguem. Então, quando as formigas se alimentam do fungo elas aproveitam também os nutrientes. Em troca as formigas oferecem todo o cuidado e nutrientes necessários para a continuidade da espécie.

Após cortar pedaços de folhas, as formigas os levam para o ninho para alimentar os fungos. Todavia, elas primeiro limpam, cortam em pedaços menores e organizam o alimento. Além do mais, as formigas espalham esporos pela sua fazenda, criando ainda mais cultivos, parecido com um agricultor espalhando sementes. Elas também sabem identificar alimentos tóxicos para os fungos, aqueles que contêm muitas proteínas.

Algumas espécies ainda cultivam bactérias que produzem antibióticos. Assim as formigas evitam que uma infecção atinja a colônia ou os fungos.

Como se não fosse suficiente, muitas formigas ainda têm criações de pulgões. Esses pequenos insetos se alimentam da seiva de plantas e acabam excretando açúcares. As formigas perceberam isso há milhões de anos e, desde então, criam pulgões em seus ninhos para se alimentar do açúcar. Elas levam os “rebanhos” de pulgões para plantas mais nutritivas e até cortam as asas dos insetos para que eles não fujam.

Formigas podem criar diversas espécies diferentes de pulgões em suas fazendas.
Formigas cuidando de um rebanho de pulgões (Jerzy Górecki/Pixabay )

O funcionamento da colônia

Cada colônia de formigas pode ter milhões ou até bilhões de indivíduos. Portanto elas precisam de muito alimento. Sobretudo, isso fez com que essas espécies se tornassem bastante especializadas. Ademais, as operárias são responsáveis por conseguir alimento, cuidar das fazendas e defender o ninho. Por sua vez, as rainhas se reproduzem e dão origem a novas operárias. Algumas colônias ainda têm fêmeas aladas que também geram novos ovos.

Ainda, o que determina a classe da formiga é a quantidade de alimento que ela recebe enquanto larva. As formigas operárias são larvas subnutridas. Porém as rainhas e fêmeas com asas são bem alimentadas.

Não é a toa que as formigas têm essa organização. Em 2017 foi descoberta na Europa uma colônia gigante que se estendia por mais de 6.000 km. A extensão dos formigueiros vai de Portugal até a Itália.

Como dito antes, as formigas desenvolveram a agricultura muito antes dos humanos. Acredita-se que essas espécies criam fungos e pulgões desde a extinção dos dinossauros, há cerca de 65 milhões de anos. Isso só foi possível por um longo processo de seleção natural e por relações ecológicas extremamente complexas.

Vale lembrar que por mais que as formigas estejam aqui há muito tempo, elas são bastante sensíveis. Perturbações no ambiente, como a derrubada de árvores e a aplicação de inseticidas podem extinguir do dia para a noite colônias inteiras. Por menores que sejam, as formigas são essenciais para o funcionamento do ambiente. Portanto, é preciso ter muito cuidado e muito estudo com esses pequenos insetos agricultores.

tree stump 2293966 1920
(Rihaij/Pixabay )
Compartilhar