Um novo estudo publicado na revista Nature mostra que nossos ancestrais já andavam eretos há 7 milhões de anos.
Em 2001, pesquisadores encontraram fósseis em um sítio arqueológico no deserto de Djurab, no Chade, país do centro-norte africano. Em 2002, essa ossada foi descrita como uma nova espécie humana, Sahelanthropus tchadensis. Desde então, a ossada recebe disputas de cientistas, já que trata-se da primeira espécie humana – logo que se separou do restante dos primatas.
“Na maior parte dos aspectos, parece um macaco”, disse à Smithsonian Magazine o paleoantropólogo da Universidade de Harvard Daniel Lerberman, que não esteve envolvido com o estudo. “Mas há algumas características realmente importantes que fazem parecer que está na linhagem humana”.
Lieberman destaca que a “mais importante dessas características é que parece um bípede”.
Esse fóssil pode ser o hominídeo mais antigo conhecido, e possivelmente a primeira linhagem dos humanos a se separar da linhagem dos Chimpanzés. Embora seja possivelmente um bípede, ele também apresentava semelhantes com os Chimpanzés. Os braços dos esqueletos encontrados, por exemplo, indicam que eles viviam por bastante tempo nas árvores. Por dividir essas semelhantes, acredita-se que se trata da ramificação dos humanos e chimpanzés, a ramificação mais recente da família dos primatas.
Os nossos ancestrais já andavam eretos há 7 milhões de anos?
Estudos iniciais, em 2005, haviam demonstrado, primeiro, evidências do bipedismo nos Sahelanthropus. Conforme relata a Smithsonian Magazine, a passagem que liga a medula espinhal ao cérebro aponta para baixo nos crânios de animais que caminham ereto, como os humanos. Nos quadrúpedes, por sua vez, essa conexão é voltada para trás.
Portanto, via de regra, essa ligação é vertical em bípedes e horizontal em quadrúpedes. Isso já trazia as evidências iniciais desse ponto. No entanto, esse ponto como evidência não foi consensual entre os cientistas. O questionamento se os nossos ancestrais já andavam eretos há 7 milhões de anos estava feito, mas como adentrar esse ponto?
No início, a descoberta do crânio, dos ossos do antebraço e do fêmur do animal não foram relacionadas como uma única descoberta. Então, mais tarde, as peças foram todas atribuídas a um único indivíduo.
Vinte anos após a descoberta da ossada, os cientistas concluíram as descrições extremamente detalhadas. O fêmur do Sahelanthropus era essencial para estabelecer se os nossos ancestrais já andavam eretos há 7 milhões de anos.
Analisando o fêmur
A tarefa para determinar de fato se os nossos ancestrais já andavam eretos há 7 milhões de anos começou a ficar um pouco desafiadora, já que não seria tão simples assim analisar aquele fêmur. O osso não possuía mais as articulações em suas extremidades — pontos que trariam os principais indícios para por um fim a esse debate. Uma análise do colo do fêmur ou dos joelhos traria luz à questão.
“Foi muito desafiador também, porque o osso foi roído, provavelmente, por um porco-espinho”, disse à Smithsonian Magazine o co-autor do estudo, Jean-Renaud Boisserie.
Então, os cientistas tiveram que recorrer a um pouco de tecnologia.
Conforme relata Boisserie, “uma grande quantidade de informações foi preservada tanto na morfologia externa quanto nas estruturas internas que acessamos por meio de microtomografia computadorizada”.
Para buscar o resultado, os cientistas precisaram comparar mais de vinte traços do fêmur e os ossos do antebraço, com os de chimpanzés, gorilas e orangotangos vivos, além de alguns fósseis de macacos e de hominídeos bípedes.
No entanto, o ponto final sobre se ancestrais já andavam eretos há 7 milhões de anos ainda não foi colocado. Um estudo de 2020 que olha para a mesma ossada diz que o indivíduo não era habitualmente bípede.
“As duas equipes que coletaram dados do fêmur parecem discordar inteiramente sobre o que o fêmur mostra”, disse o pesquisador John Hawks, da universidade de Wisconsin-Madison. “Eles estão olhando para o mesmo pedaço de osso. Eu não entendo como eles discordam sobre isso”.
Hawks defende que eles deveriam liberar os dados para exame. Assim, a academia poderia colocar um fim na história — os nossos ancestrais já andavam eretos há 7 milhões de anos, ou não? Essa ossada é importante, pois pode se tratar de uma das primeiras espécies desde que a linhagem dos humanos se separou dos chimpanzés.