Ainda é um mistério como os caracóis se espalharam pelo mundo

A dispersão dos caracóis intrigou até mesmo Darwin, que disse: "Nenhum fato me parece tão difícil quanto aqueles relacionados com a dispersão da Mollusca".

Felipe Miranda
Imagem: Pixabay
Destaques
  • Pesquisadores descobrem que caracóis podem sobreviver em água salgada por até 20 dias, utilizando uma camada de muco para se proteger da osmose, permitindo a possibilidade de dispersão através dos oceanos.
  • Estudos sugerem que caracóis podem se dispersar através do mundo ao subir a bordo de pássaros migratórios ou até mesmo voando sozinhos pelo vento, presos a pequenas folhas.
  • Apesar de suas notáveis habilidades de dispersão passiva, muitas espécies de caracóis estão enfrentando extinção devido à ação humana, destacando a necessidade de preservação desses animais intrigantes.

A dispersão dos caracóis é fascinante, se pararmos para pensar. A viagem dos caracóis do Havaí pelos oceanos do mundo rumo à sua nova casa não são um tema muito comum para pesquisas científicas, mas há cientistas interessados por todo tipo de assunto. Em 2006 um pesquisador colocou um pedaço de casca de árvore com 12 caracóis Succinea caduca vivos em um aquário de água salgada.

“Depois de fortes chuvas, eles são comumente vistos em ravinas pela costa, então não há dúvida de que eles serão lavados com bastante frequência”, disse ao MIT Press Brenden Holland, pesquisador do departamento de biologia da Universidade do Pacífico do Havaí.

O plano do experimento era entender a capacidade dos caracóis de se transportar pelo mar – eles suportariam a água salgada? Se sim, eles poderiam viajar pelos mares e iniciar uma vida em novos habitats.

E bom, o resultado foi interessante. Após 12 horas, os caracóis adicionados ao aquário estavam vivos, o que indica que a água salgada não é letal de maneira imediata ao animal. Portanto, os caracóis possuem a capacidade de se transportar por meio de galhos, troncos e folhas boiando pela água salgada.

Em busca da dispersão dos caracóis

“Nenhum fato me parece tão difícil quanto aqueles relacionados com a dispersão da Mollusca”, disse Darwin em 1857.

Em experimentos, Darwin observou que os caracóis Helix pomatia podiam se recuperar após 20 dias na água salgada. Com a criação de uma camada de muco, eles de protegiam da osmose — troca de líquido entre a célula e o ambiente. Um ambiente salgado faz as células perderem líquido. Esse muco protege o caracol dos efeitos que o sal pode ocasionar.

Outros experimentos também conseguiram com que diversos caracóis sobrevivessem por duas semanas na água salgada — metade do tempo necessário para se atravessar o Oceano Atlântico sobre um tronco boiando.

dispersão dos caracóis
Imagem: Pixabay

Voando? Talvez

Há caracóis minúsculos — alguns do tamanho de um grão de arroz. Entre os caracóis maiores e menores, análises filogenéticas indicam algumas relações.

Por exemplo, se um caracol minúsculo chega a algum local cujo ambiente permite, por exemplo, uma alimentação melhor, seus descendentes podem alcançar tamanhos maiores.

Isso indica que a dispersão pode ser feita por meio desses caracóis de tamanhos menores. Se um caracol subir à bordo de um pássaro migratório, ele pode se espalhar pelo mundo, de acordo com a rota desse pássaro. Essa é uma possibilidade bastante levantada pelos pesquisadores para a dispersão dos caracóis ao redor do mundo – possibilidade muitas vezes mais cotada do que a dispersão por meio dos oceanos.

A possibilidade possui respaldo por uma série de encontros acidentais de caracóis em pássaros. Em 1965, o pesquisador britânico William James Rees publicou no periódico Journal of Molluscan Studies um artigo em que falava sobre a dispersão aérea dos moluscos.

Também há a hipótese de que o caracol possa ser consumido pela ave e sobrevivido ao seu trato gastrointestinal. Assim, o caracol sairia nas fezes na ave. Hipóteses é o que não faltam para explicar a dispersão dos caracóis.

Voando também, mas sem carona

E se os caracóis se dispersarem voando, mas sem uma carona? Essa possibilidade também é defendida por alguns. Encontra-se, algumas vezes, partículas de rochas com tamanhos e massas semelhantes às dos caracóis voando a mais de 2 mil metros de altura.

Assim, também é defendido que os caracóis possam se dispersar entre os continentes voando sozinhos pelo vento, ou presos a pequenas folhas.

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“Se os caracóis pudessem voar”. Imagem: Billie Achilleos

Em 1975, o biólogo e especialista em caramujos José Vagvolgyi publicou um artigo no periódico Systematic Zoology em que defende que “o mecanismo envolvido deve ser aéreo, uma vez que somente neste tipo de dispersão são vantajosos os pequenos tamanhos e leves”.

Dispersão passiva

Um ponto é: eles não saem voando com uma direção. Nem entram na água e nadam. Os caracóis de dispersam por alguma (ou algumas) maneira (ou maneiras) passivas. Uma hipótese não anula a outra, e pode ser que, em diversas partes do mundo, diversas espécies diferentes tenham tomado maneiras diferentes de dispersão. Mas sabemos que todos esses meios são passivos.

Há semelhanças entre caracóis de continentes vizinhos, isto é fato. Então, seja qual for a maneira, de alguma forma eles navegam entre os continentes.

E bom — estamos os matando. Uma família de animais que sobrevivem ao acaso, que sobrevivem à viagens que possam ser completamente improváveis está sendo extinta graças ao ser humano.

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