Pesquisadores sequenciaram o genoma do “caracol-vulcão”

Mateus Marchetto
Imagem: Kentaro Nakamura, et al./Wikimedia commons

Pense em um animal que vive em temperaturas infernais. Talvez esse animal imaginário seja bastante bizarro, mas não tanto quanto o “caracol-vulcão”. Este gastrópode durão tem uma concha de ferro e vive em temperaturas altíssimas no fundo do mar. Agora cientistas acabam de sequenciar seu genoma.

Caracol-vulcão, Gastrópode-de-pé-escamoso ou, o melhor de todos: Pangolim-marinho. Estes são alguns dos nomes dados à espécie de caracol Chrysomallon squamiferum, que vive em fontes termais no Oceano Índico.

Pesquisadores descreveram a descoberta da espécie ainda em 2001, apesar do bicho ter apenas recebido um nome formal cientificamente em 2015.

Diferente de tudo que se conhecia até o momento, o caracol vulcão tinha escamas rígidas protegendo a parte inferior do seu corpo. Ainda mais bizarro que isso, o gastrópode é o único animal conhecido a conseguir integrar ferro ao seu esqueleto.

Ou seja, tanto a concha quanto as escamas do pangolim-marinho possuem uma camada de ferro. Especificamente sulfeto de ferro, absorvido das áreas extremas que o bicho habita.

Desde então, este caracol vem tirando o sono de pesquisadores, que no começo de 2020 finalmente sequenciaram o genoma do animal.

0 PAY PNLAVASNAIL02
Imagem: Pen News/HKUST

Acontece que o caracol-vulcão possui pelo menos 25 fatores de transcrição que podem ajudar a expressar genes relacionados à sua cobertura metálica.

“Nós descobrimos que um gene, chamado MTP – metal tolerance protein -, mostrou um aumento de 27 vezes na população com mineralização de sulfeto de ferro comparado a uma sem [a mineralização].”, afirma o autor Dr. Sun Jin, ao The Outlet.

Ainda mais incrível, o caracol é quase autossuficiente. Não por fazer fotossíntese ou quimiossíntese, mas sim por abrigar uma glândula repleta de bactérias que provém alimento para o bicho.

Vale comentar ainda que as fontes termais no fundo do oceano podem facilmente aquecer a água nos seus arredores a quase 400°C.

Como a mineração ameaça o caracol-vulcão

Desde 2019, o pangolim-marinho é considerado uma espécie ameaçada de extinção, de acordo com a Lista Vermelha da IUCN. Em poucos anos desde sua descoberta, as populações da espécie apresentaram um declínio alarmante.

Os principais suspeitos pelo prejuízo são grandes mineradoras que exploram minerais no leito oceânico (deep-sea mining ou mineração em alto mar). Acontece que as fontes termais – hábitat do caracol-vulcão – são também conhecidas pela formação de diversos outros sulfetos metálicos.

Estes compostos químicos podem aglomerar metais preciosos e, consequentemente, atrair mineradoras famintas por novas fontes de exploração. Como dá para imaginar, a mineração não é uma atividade muito saudável para os caracóis, por mais protegidos e resistentes que eles sejam.

two volcano snails drawn
Imagem: Rachel Caauwe/Wikimedia Commons

Por ser uma espécie descoberta bastante recentemente, ademais, ainda não existem muitos esforços e legislação para a proteção destes animais. É possível ainda que existam outros organismos tão bizarros quanto o C. squamiferum em fontes termais.

Infelizmente estes possíveis organismos não conhecidos podem acabar extintos muito antes de sabermos que eles existem ou existiram. Mesmo o pangolim-marinho pode acabar desaparecendo antes de legislações protegerem o animal.

Tudo depende da velocidade de ação para a proteção de um dos animais mais alienígenas que conhecemos.

A pesquisa está disponível no periódico Nature Communications.

Compartilhar