A melhor forma de se manter uma colônia fixa em Marte é criar meios de agricultura no planeta. Levar alimentos para lá não é algo tão prático, e cultivá-los in loco é algo que faz mais sentido no longo prazo. Isso é, inclusive, bastante explicado na ficção científica, como a plantação de batatas de Matt Damon em Perdido em Marte.
Pensando nisso, diversas empresas, institutos de pesquisas e universidades de debruçam na tentativa de desenvolver tecnologias que permitam o extenso cultivo de vegetais no planeta vermelho.
O cultivo vertical é o cultivo de plantas sem solo, em um ambiente controlado, com o fornecimento de água rica em nutrientes que vão diretamente para as raízes das plantas, onde há também um rigoroso controle de temperatura, umidade e emissão de luz. O sistema visa a produtividade e uma utilização mais econômica e mais eficiente de água e fertilizantes.
Cápsulas de cultivo
A startup Interestellar Lab desenvolveu uma tecnologia que chama de NUCLEUS (sigla em inglês para Nutritional Closed-Loop Eco-Unit System). O o sistema modular, composto por nove cápsulas, promete fornecer uma dieta bastante nutritiva para quatro astronautas por uma missão de dois anos. O projeto venceu a primeira fase de um desafio na NASA e se classificou para a fase 2.
“O foco inicial era construir um sistema regenerativo de produção de alimentos para promover a agricultura sustentável na Terra”, disse à CNN World Barbara Belvisi, CEO da startup. “Mas eu perguntei: ‘e se a tecnologia de que precisaremos para viver no espaço puder nos ajudar a viver de forma mais sustentável na Terra?’ Foi assim que nasceu o conceito de módulos avançados de ambiente controlado para a Terra e o espaço”.
Fazendas verticais
A maior fazenda vertical do mundo é a Crop One, em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos. A fazenda produz 1 milhão de kg de alimentos de diversas culturas, segundo a empresa.
“Uma das vantagens fundamentais desse cultivo indoor é que podemos colocá-lo em Dubai, podemos colocá-lo no frio extremo – basicamente em qualquer lugar. E, além da água e da luz artificial, independe de recursos”, disse Deane Falcone, diretor científico da Crop One.
A água para esse uso poderia ser retirada das calotas polares marcianas e de fontes no subsolo. A fonte de energia pode vir de placas fotovoltaicas (energia solar) e de reatores.
Além da produção do alimento, podemos tirar alguns outros proveitos do cultivo nas áreas remotas e inóspitas, como Marte.
“O sistema tem que ser algo em que você possa confiar dia após dia para fornecer comida. Ele também pode ser adaptado para fornecer ar respirável, já que o oxigênio é criado pelas plantas que crescem lá. Você teria que ter um sistema em grande escala para permitir a produção contínua de alimentos e produtos adicionais, como oxigênio” diz Falcone à CNN.
Mas há muitos cuidados a se tomar.
“Em Marte, você tem que fechar o ciclo. Você tem que prestar muita atenção em qualquer coisa que você está perdendo ou colocando no sistema”, diz Evan Fraser. “É um bom exercício de pensamento para nos lembrar o que poderíamos fazer na Terra se realmente insistíssemos”, explica.
Fraser é diretor do Instituto de Alimentos Arrell da Universidade de Guelph e escreveu um livro sobre tecnologias para o cultivo em Marte e com aplicabilidades na Terra, junto a Lenore Newman, diretora do Instituto de Alimentação e Agricultura da Universidade do Vale Fraser.
“A indústria agrícola vertical tem feito um trabalho notável de redução de mão de obra, água e custos, como custos de terra. Eles estão alcançando uma enorme produtividade por hectare quadrado, por hora de trabalhador e por litro de uso de água”, explica Fraser.