Agora sabemos porque há mais tempestades no hemisfério sul do que no norte

Felipe Miranda
Imagem: Pixabay

Por alguma razão, o Hemisfério Sul possui cerca de 24% mais tempestades do que o hemisfério Norte, e esse fato é conhecido há séculos. Os marinheiros já haviam percebido esse padrão, que foi confirmado nos dias de hoje por meio de imagens de satélites.

A razão, ou as razões pelas quais esse padrão existe eram desconhecidas até o momento. Até agora, mesmo após muitos estudos por parte da academia científica de todo o mundo, não se sabia exatamente porque há mais tempestades e eventos climáticos extremos e catastróficos no hemisfério sul do que no hemisfério norte. Essa demora ocorreu porque o estudo do clima é uma área nova, que surgiu apenas ao final da Segunda Guerra Mundial.

O estudo que analisa essa questão foi publicado pelos pesquisadores no periódico Proceedings of the National Academy of Sciences (PNAS) em outubro de 2022. A pesquisa é liderada pela pesquisadora Tiffany Shaw, uma cientista climática da Universidade de Chicago. Esta é a primeira explicação concreta para o fenômeno.

A equipe encontrou, não só um, mas dois culpados principais para o fenômeno. A circulação oceânica e as grandes cadeias de montanhas existentes no hemisfério norte são alguns dos motivos pelos quais no norte há menos tempestades do que no sofrido hemisfério sul.

Além disso, desde os anos 1980, essa assimetria de tempestades e outros grandes eventos climáticos extremos aumentou entre o hemisfério sul e o hemisfério note. Esse crescimento nas diferenças e na assimetria mostra uma influência das mudanças climáticas na amplificação do efeito.

Os pesquisadores utilizaram modelos numéricos que descrevem e reproduzem as observações realizadas. Removendo diversas variáveis, uma de cada vez, eles analisaram como o sistema se comportava sem cada uma delas e, dessa maneira, analisando o impacto de cada uma delas sobre as tempestades ou grandes fenômenos meteorológicos.

“Você não pode colocar a Terra em um frasco”, disse Shaw em um comunicado. A pesquisadora completa: “então, em vez disso, usamos modelos climáticos construídos sobre as leis da física e realizamos experimentos para testar nossas hipóteses”.

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O mapa topográfico da Terra mostra as características do relevo. Imagem: NASA Jet Propulsion Laboratory

Assim, eles encontraram, como as principais variáveis, a topografia e a circulação oceânica.

Em relação à topografia, as grandes cadeias de montanhas presentes no hemisfério norte interrompem um grande fluxo de ar. Dessa forma, essas montanhas reduzem a formação de tempestades. O fenômeno também acontece no hemisfério sul, obviamente. Mas como aqui há menos cadeias de montanhas do que lá, há uma redução nas tempestades no hemisfério norte, em relação ao hemisfério sul.

Em segundo lugar, há a variável que se relaciona com a circulação oceânica. Há um fluxo de movimento da água que é lento, mas com um grande efeito: a água afunda do Ártico, viaja pelo fundo do oceano, sobe para perto da superfície por perto da Antártica e continua a fluir nessa altura, carregando uma energia. Dessa forma, essa corrente cria uma diferença de energia ente o hemisfério norte e hemisfério sul. Ao remover essa variável, a assimetria desaparece.

Além disso, as mudanças climáticas estão causando não só um aumento nas tempestades, mas um aumento na simetria. Segundo os pesquisadores, no hemisfério norte, as tempestades não estão aumentando tanto quanto no hemisfério sul devido a perda de gelo, que está relacionada a um aumento na absorção da luz solar.

“Ao estabelecer essa base de entendimento, aumentamos a confiança nas projeções de mudanças climáticas e, assim, ajudamos a sociedade a se preparar melhor para os impactos das mudanças climáticas”, disse Tiffany Shaw. “Um dos principais tópicos da minha pesquisa é entender se os modelos estão nos dando boas informações agora para que possamos confiar no que eles dizem sobre o futuro. As apostas são altas e é importante obter a resposta certa pelo motivo certo”, completa Shaw.

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