Uma fêmea da maior lula do mundo capturada ao largo da costa do Japão teve aparentemente apenas um encontro amoroso durante a sua vida. A fêmea tinha pacotes de esperma de apenas um macho da espécie embutido no seu corpo, o que surpreendeu os pesquisadores.
Uma vez que as lulas gigantes são criaturas solitárias, elas provavelmente se cruzam com potenciais companheiros em raras ocasiões. Os cientistas esperavam que as fêmeas armazenassem de forma estratégica espermas de múltiplos machos ao longo do tempo.
Reprodução misteriosa
A reprodução da lula gigante (Architeuthis dux) ainda é um mistério para os cientistas. O animal habita o oceano profundo e é raramente encontrado vivo.
Noritaka Hirohashi, biólogo da Universidade de Shimane, no Japão, e autor do artigo desse estudo, afirma que o que se conhece dos hábitos de acasalamento dessas misteriosas criaturas é que as lulas gigantes fêmeas são por vezes encontradas com grandes pacotes de esperma conhecidos como espermatângios embutidos nos seus músculos.
Os machos da espécie provavelmente usam o seu pênis alongado muscular para injetar os pacotes de esperma nas fêmeas.
A partir disso, a forma como o esperma encontra o óvulo não é totalmente clara. É possível que a fêmea libere sinais químicos que ativam o esperma quando está pronta para desovar, ou talvez libere os seus óvulos de tal forma que eles encontram os pacotes de esperma à medida que saem do seu corpo.
Sabendo que testemunhar o acasalamento de duas lulas gigantes é altamente improvável, Hirohashi e a sua equipe desenvolveram uma “brecha” para o processo, utilizando a genética.
Examinando espécimes de lulas capturadas e de museus, eles identificaram alguns segmentos do genoma da lula gigante que iriam distinguir o DNA de diferentes lulas. É como um teste de paternidade das lulas: quaisquer pacotes de esperma encontrados em uma fêmea podem ser testados para checar se vêm de múltiplos machos e, em caso afirmativo, quantos são.
O esperma encontrado na lula gigante
O espécime do estudo era uma fêmea medindo 1,6 metros de comprimento e pesando 116,6 quilos. Pescadores em Quioto capturaram a lula e doaram para o Aquário de Energia de Miyazu antes de ser dissecada
Quando os cientistas examinaram o corpo, descobriram que a lula estava perto de atingir a maturidade e tinha espermatângios de 10 centímetros de comprimento incrustados em cinco locais no corpo: três lugares no manto da lula, um no braço e um na cabeça.
A análise genética dos espermatângios revelou que todos vieram do mesmo macho.
Isto foi chocante para os pesquisadores, pois eles apontavam que as lulas gigantes seria uma espécie que acasalaria com vários parceiros para garantir a reprodução.
Lulas gigantes são frequentemente encontradas com pacotes de esperma. Até mesmo em fêmeas imaturas, talvez como uma forma de os machos disponibilizarem o seu esperma após a maturação da fêmea.
Como a espécime estudada é apenas um indivíduo, é necessária mais investigação para comprovar se a monogamia é a norma entre as fêmeas lulas gigantes.
Também é possível que esta fêmea tenha simplesmente encontrado apenas um macho antes de ter sido pescada. Ou talvez seja típico que as fêmeas acasalem com apenas um macho.
O próximo passo é estudar os espermatângios de mais espécimes. Os pesquisadores precisam descobrir como o esperma armazenado chega aos óvulos, pois eles não são depositados perto do espermatângio.
Os cientistas também precisam de descobrir basicamente todo o resto sobre a maior e mais misteriosa lula existente do mundo, incluindo a sua duração de vida, migração e habitats.
