Sim, você leu certo. Mesmo que não haja água líquida nem oxigênio por lá – a atmosfera da Lua é quase desprezível -, a Lua está enferrujando. E os cientistas querem entender o motivo.
A ferrugem é a oxidação, ou seja, uma reação do ferro com o oxigênio. A água pode catalisar essa reação, mas não é necessária água. É necessário, portanto, apenas alguma forma de oxigênio.
Na lua há água, mas não em estado líquido. É impossível a água permanecer líquida na superfície da Lua – ela evaporaria em um instante, pela falta de atmosfera. Também não há oxigênio rodeando o satélite natural.
Os cientistas, no entanto, identificaram a presença de hematita na Lua. A hematita é uma forma de óxido de ferro. Em outras palavras, um nome bonito para se referir ao ferro enferrujado. E isso deixou os cientistas perplexos.
“É muito intrigante”, disse Shuai Li, da Universidade do Havaí, em um comunicado da NASA. “A Lua é um ambiente terrível para a formação de hematita”. Li é o autor principal de um estudo que analisa o fato.
O artigo que descreve a pesquisa que investiga por que a Lua está enferrujando, feita por uma equipe de cientistas liderada pelo geofísico Shuai Li, foi publicado no periódico Science Advances no dia 2 de setembro.
“No início, eu não acreditei totalmente. Não deveria existir com base nas condições presentes na Lua”, disse Abigail Fraeman, geocientista planetária no Laboratório de Propulsão a Jato (JPL) da NASA.
“Mas desde que descobrimos água na Lua, as pessoas têm especulado que poderia haver uma variedade maior de minerais do que imaginamos se a água tivesse reagido com as rochas.” explica Fraeman.
Localizando ferrugem
A hematita foi descoberta pela sonda Chandrayaan-1. Trata-se de um orbitador lunar da Organização de Pesquisa Espacial Indiana. Ele operou entre os anos de 2008 e 2009.
O instrumento específico utilizado para essas análises foi o Moon Mineralogy Mapper (M3), projetado pelo JPL-NASA. Ele faz análises espectroscópicas, que são, em suma, análises da interação da matéria com as ondas eletromagnéticas.
Por meio da espectroscopia é possível, portanto, obter dados detalhados sobre determinados materiais. Por exemplo, através da reflexão da luz. Cada material gera uma interferência diferente nessa luz.
“Quando examinei os dados do M3 nas regiões polares, descobri que algumas características e padrões espectrais são diferentes daqueles que vemos nas latitudes mais baixas ou nas amostras da Apollo”, diz Li em um comunicado da universidade do Havaí.
Li não estava procurando por ferrugem. Ele explica que passou meses analisando os dados tentando descobrir se era possível alguma reação entre água e rochas lunares. Então ele descobriu, portanto, que tratava-se de hematita.
Buscando por explicações
No entanto, eles já possuem uma possível explicação do porquê a Lua está enferrujando. A sonda japonesa Kaguya demonstrou, há algum tempo, que o oxigênio do alto da atmosfera da Terra pode ser empurrado para fora da atmosfera pelos ventos solares.
Além disso, em alguns momentos, a Lua está dentro da cauda do campo magnético terrestre. É justamente nesses momentos que ela pode receber oxigênio e gotículas de água da Terra.
Um tempo de bilhões de anos é suficiente para a formação da hematita. Mesmo assim, há uma pequena quantidade de hematita em áreas onde os cientistas acreditam que o oxigênio da Terra não pode chegar, entretanto.
Há também outras hipóteses, que ainda necessitam de testes. Portanto, isso ainda não está resolvido. Próximas missões para a Lua podem ajudar a responder.
A pesquisa foi publicada na revista Science Advances. Com informações de Science Alert, NASA e University of Hawaii News.