5 insetos que mudaram o mundo

Damares Alves
Imagem: Egor Kamelev

Se você tivesse que escolher cinco insetos que mudaram a história da humanidade, quais seriam e por quê?

Com mais de 1,1 milhão de espécies descritas e um total de dez quintilhões de insetos zanzando por aí, essa missão pode parecer bem difícil.

Talvez seu primeiro pensamento pode ser focado nos insetos que causam doenças ou nos incomodam. Como a pulga do rato, que espalhou a Peste Negra e dizimou um terço da população mundial. Ou os mosquitos, que transmitem a malária, uma doença que ainda hoje tira mais de meio milhão de vidas por ano e já influenciou guerras e grandes obras. Tem também o piolho do corpo, que ajudou a detonar a marcha de Napoleão rumo a Moscou, ao transmitir o tifo epidêmico. Isso sem contar os insetos que destroem plantações, invadem a cozinha ou têm uma picada dolorida.

Embora esses exemplos de “vilões” não possam ser ignorados, eles são só uma pequena parte da imensa diversidade de insetos que, na verdade, trazem muitos benefícios.

Os insetos são muito importantes para o nosso ecossistema. Esses bichinhos fazem coisas incríveis para nós e para o planeta, como polinizar plantas, ajudar na decomposição e até inspirar engenheiros e artistas com suas habilidades e formas únicas. Eles influenciam o que vestimos, comemos, para onde viajamos e como vemos o mundo. Gostando ou não, os insetos estão por toda parte, são nossos vizinhos e companheiros constantes, moldando nossas vidas de maneiras profundas e positivas. Eles são tão numerosos e variados que, sem eles, a natureza simplesmente se desmancharia, e nós acabaríamos sendo apenas uma nota de rodapé na história do planeta.

Então, vamos focar em cinco insetos que moldaram o rumo da humanidade.

Bicho-da-seda (Bombyx mori)

A seda tem uma origem fascinante que remonta à antiga China, cerca de 4.000 a 5.000 anos atrás. Segundo a lenda, a descoberta aconteceu por acaso, quando a imperatriz chinesa Xi Ling Shi estava tomando chá sob uma amoreira e um casulo de bicho-da-seda caiu em sua bebida. Ao tentar retirá-lo, ela percebeu que o casulo se desenrolava em um fio longo e brilhante. Isso teria marcado o início da sericicultura, a criação de bichos-da-seda para a produção de fios de seda.

Historicamente, a seda rapidamente se tornou um produto de luxo na China. Durante séculos, a técnica de produção da seda foi mantida em segredo, protegida como um tesouro de estado. O conhecimento de como criar os bichos-da-seda e tecer o tecido fino só foi compartilhado com outras culturas muito tempo depois, por meio de espionagem, contrabando e comércio.

A seda não era apenas um tecido; ela teve um papel central na economia e na cultura. A famosa Rota da Seda, uma rede de rotas comerciais que se estendia da China até a Europa, ganhou esse nome graças ao comércio da seda e ajudou a conectar civilizações, facilitando a troca de mercadorias, ideias e culturas. Ao longo do tempo, o uso da seda se espalhou pelo mundo, sendo valorizada por sua suavidade, brilho e elegância.

Fontes históricas, como registros antigos chineses e escritos de viajantes famosos, como Marco Polo, documentam o impacto da seda na economia e cultura global. A produção de seda se expandiu para outras regiões, como Japão, Índia e até mesmo a Europa.

Hoje, a seda continua sendo um dos tecidos mais valorizados e é produzida principalmente na China e na Índia, mantendo sua reputação de luxo e qualidade.

Essa trajetória histórica mostra que a seda não é apenas um material fino, mas também um tecido que moldou a história das civilizações, conectando culturas e influenciando a economia mundial ao longo dos séculos.

Abelha-europeia (Apis mellifera)

Uma abelha européia Apis mellifera
Imagem: Ivar Leidus

As abelhas são responsáveis pela polinização de cerca de 70% das culturas agrícolas que consumimos, como frutas, legumes, castanhas e até algumas plantas que servem de alimento para o gado. Esse processo ocorre quando as abelhas pousam nas flores em busca de néctar e pólen, ajudando a transferir o pólen de uma flor para outra, o que facilita a reprodução das plantas.

Essa relação é tão importante que a produção agrícola global depende significativamente das abelhas. Sem elas, muitas colheitas teriam uma queda drástica na produção, o que afetaria a oferta de alimentos, aumentando os preços e criando crises alimentares.

Uma abelha produz cera em seu abdômen e a mastiga para construir seu favo de mel, que é leve, mas bem resistente. Ela também transforma o néctar das flores em mel cheio de energia. Para os humanos, o favo de mel é um verdadeiro presente, com muitos usos e benefícios. A cera de abelha já foi usada para fazer velas, cosméticos, revestimentos para conservar alimentos, remédios e adesivos, além de ser fundamental na técnica de pintura encáustica. Algumas das maiores obras de arte do mundo foram feitas usando cera de abelha no processo de fundição por cera perdida.

O mel, além de ser doce, tem sido usado para tratar feridas e até para preservar corpos. Desde os tempos antigos, nossos ancestrais colhiam mel dos ninhos de abelhas para complementar a alimentação com essa fonte de energia rica, o que pode ter ajudado na transição do simples ato de roubar o mel para a prática da apicultura.

Cochonilha (Dactylopius coccus)

Uma cochonilha
Imagem: Ravi Kant

A fonte do vermelho perfeito foi cuidadosamente cultivada por séculos pelos astecas e maias, que utilizavam a cochonilha para produzir o vibrante corante carmim. Esse inseto minúsculo, que vive em cactos do gênero Opuntia, era fundamental para tingir tecidos e criar obras de arte na América pré-colombiana. Com a chegada dos conquistadores espanhóis, o pigmento passou a ser exportado para a Europa em grandes quantidades. Os europeus ficaram maravilhados com a intensidade e a durabilidade da cor, que superava qualquer outro corante vermelho disponível na época.

No entanto, por muito tempo, a origem do pigmento permaneceu um mistério para os europeus, que especulavam se ele era feito a partir de um verme, uma baga ou alguma combinação exótica. O segredo foi mantido até o final do século XVIII, quando o botânico francês Nicolas-Joseph Thiéry de Menonville conseguiu, por meio de truques e espionagem, roubar plantas de cacto com colônias de cochonilhas do México, desafiando o rígido controle espanhol sobre a produção do corante.

O corante carmim, extraído do corpo seco das fêmeas da cochonilha, rapidamente se tornou um dos produtos mais valiosos da época, sendo usado para tingir as vestimentas da nobreza europeia, os mantos do clero católico e os famosos “casacos vermelhos” dos soldados britânicos. O processo de extração do corante envolvia secar e triturar as cochonilhas, liberando o ácido carmínico, responsável pelo tom vermelho intenso.

Hoje, o uso do corante natural continua, especialmente em alimentos, bebidas e cosméticos, onde ele é listado como “carmim” ou “E120”. Além de ser uma alternativa mais natural aos corantes sintéticos, o carmim mantém uma rica herança cultural.

Insetos de laca (Kerria lacca)

Insetos da espécie Kerria lacca
Imagem: Jeffrey W. Lotz

Quantas maçãs você já comeu, quantos doces provou, ou quantos móveis e obras de arte você já viu que tinham uma camada brilhante e protetora feita de secreções de insetos? Se as cochonilhas produzem uma camada branca e cerosa para proteger seus corpos, os insetos de laca expelem uma resina dura que forma um casulo sob o qual eles se alimentam da seiva das plantas. Essa resina é chamada de laca, e os humanos descobriram como transformá-la em um material versátil. Primeiro, os gravetos cobertos por laca são colhidos, depois a resina é processada em flocos e, por fim, transformada em um fluido chamado goma-laca.

A goma-laca tem sido usada historicamente para cobrir e proteger uma enorme variedade de objetos, como móveis, instrumentos musicais, peças de arte e até produtos de beleza. Ela já foi uma escolha comum para o acabamento de pisos de madeira, por exemplo, e ainda é amplamente usada em produtos como esmaltes de unhas, sprays para cabelo e até tintas para roupas. Além disso, a goma-laca tem aplicações na indústria alimentícia, sendo usada para dar brilho a frutas, doces e revestir pílulas.

Essa substância é a única resina comercial de origem animal e um dos produtos derivados de insetos mais onipresentes no nosso dia a dia. Embora muitas vezes passe despercebida, está presente em muitos itens comuns. A história do uso de goma-laca se estende por séculos, especialmente na Índia, onde a coleta e o processamento da laca são parte de uma tradição artesanal antiga.

Esse exemplo destaca como os produtos de insetos têm um papel invisível, mas fundamental, em nossas vidas. Se secreções como a goma-laca passam despercebidas, que outros produtos derivados de insetos podem estar escondidos à vista de todos?

Até agora, focamos em insetos explorados por seus produtos, como o fio da lagarta (seda), o mel e a cera das abelhas, o corante vermelho das cochonilhas e a goma-laca. Para concluir, vamos explorar uma pequena criatura que nos ensinou mais sobre nós mesmos do que qualquer outro organismo na Terra.

Mosca-das-frutas comum (Drosophila melanogaster)

Mosca da fruta
Imagem: Egor Kamelev

Quando um foguete decolou do White Sands Missile Range, no Novo México, em 1946, ele levava o primeiro ser vivo a encarar os perigos da viagem espacial. Mas não era um macaco, um cachorro, e muito menos um humano. Os pioneiros do espaço eram, na verdade, moscas de fruta – aqueles insetinhos que você encontra rodando em volta das frutas na cozinha. Apesar de terem embarcado involuntariamente, essas pequenas moscas se tornaram os primeiros “astronautas” irradiados, enfrentando a radiação cósmica e os desafios do ambiente espacial em nosso lugar.

Além de abrir caminho para as viagens espaciais, as moscas de fruta se transformaram em protagonistas no campo da genética. Elas são um dos organismos mais estudados na ciência, especialmente porque compartilham cerca de 60% do seu DNA com os seres humanos. Isso significa que podemos aprender muito sobre nossa própria biologia, evolução e prevenção de doenças estudando essas criaturas. Por isso, os cientistas utilizam as moscas de fruta como “cobaias” para entender melhor os mecanismos genéticos que regulam o desenvolvimento e o comportamento.

Essas mosquinhas também são protagonistas em outro campo fascinante: a neurociência. Elas possuem cérebros minúsculos, mas extremamente complexos, com 139.255 neurônios e 54,5 milhões de sinapses – conexões entre os neurônios. Ao mapear e compreender a estrutura do cérebro de uma mosca de fruta, os cientistas estão desvendando segredos sobre como os circuitos neurais são organizados, o que pode ajudar a entender o funcionamento do cérebro humano.

Portanto, embora pareçam insignificantes, as moscas de fruta têm nos ajudado a explorar o desconhecido, tanto no espaço quanto em nossos próprios corpos. Com seus pequenos corpos, elas carregam grandes segredos que podem influenciar o futuro da ciência e da medicina, proporcionando um “mapa” para entendermos melhor a vida na Terra – e além dela.

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