Ataques de “lobos” na Índia podem não ser o que parecem

Daniela Marinho
Imagem: Animalia Bio

Nos últimos meses, a região de Bahraich, localizada em Uttar Pradesh, na Índia, tem sido palco de uma série de incidentes trágicos que resultaram na morte de nove crianças e um adulto, consumados em decorrência de ataques de lobos. Além das vítimas fatais, várias outras pessoas ficaram feridas.

Relatórios alarmantes indicam que os lobos, identificados como sendo da espécie Canis lupus pallipes (os lobos indianos), apresentam um comportamento ousado e extremamente perigoso. Eles não apenas atacam crianças que estão dormindo ao ar livre, mas também invadem residências, chegando ao ponto de arrancar suas vítimas diretamente de suas camas.

Diante dessa situação aterrorizante, que evidentemente tem causado muito medo e confusão em aldeias locais, o departamento florestal de Uttar Pradesh tem implementado medidas de emergência para controlar o problema.

Variedade de motivos para os ataques

A área é dominada por vastas plantações de cana-de-açúcar, o que oferece esconderijos naturais, dificultando a localização precisa do predador. Além disso, a presença de outros membros da família Canidae, como cães selvagens, torna ainda mais difícil distinguir o lobo solitário dos outros animais que habitam a região.

Diversas teorias têm surgido na tentativa de explicar os motivos que levaram os lobos a atacar seres humanos de maneira tão agressiva. Uma delas, bastante controversa, sugere que os lobos estariam agindo em “vingança”, como uma resposta a possíveis ataques sofridos por seus filhotes.

Contudo, segundo especialistas, não há qualquer evidência científica que sustente a ideia de que esses animais manifestem tal comportamento. Apesar das especulações, o verdadeiro motivo por trás dos ataques permanece incerto, e a busca pelo lobo final continua, enquanto as autoridades tentam garantir a segurança da população local.

Lobos não atacam por vingança

“Lobos não agem por vingança”, afirmou Yadvendradev Jhala, biólogo especializado em vida selvagem e membro da Indian National Science Academy. Jhala acredita que os recentes ataques registrados na região de Bahraich representam um caso extremamente raro, no qual um canídeo individual está realizando ataques predatórios com o objetivo de “matar e comer” seres humanos.

Embora lobos e outros predadores não vejam humanos como presas, há uma situação em que eles podem perder o medo de nós e se tornarem perigosos. Segundo Jhala, isso pode ocorrer se os animais estiverem famintos ou se tornarem habituados à presença humana.

Desse modo, fatores como a alimentação intencional de lobos, manter os animais de estimação ou permitir que se reproduzam com cães domésticos podem fazer com que esses animais percam a aversão natural aos humanos, aumentando a possibilidade de ataques.

Vulnerabilidade

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Canis lupus pallipes (lobo indiano). Imagem: Canva

Os habitantes do Bahreich estão em uma situação de maior vulnerabilidade em relação aos ataques de lobos, principalmente devido à proximidade com áreas de vida selvagem. A região é marcada por altos níveis de pobreza, o que se reflete nas condições de moradia, muitas vezes precárias, sem portas adequadas e sem acesso a banheiros.

“Basta que um predador aprenda que crianças são presas mais fáceis do que qualquer outra coisa, e se eles estão morrendo de fome e têm a oportunidade de matar uma criança, acho que o medo dos humanos fica em segundo plano”, disse Jhala.

Animais híbridos

Na região, além dos chacais dourados (Canis aureus ), há também cães selvagens e híbridos de lobo e cão, o que gera confusão sobre qual espécie é responsável pelos ataques.

Segundo Jhala, embora os ataques sejam realizados por canídeos, não se sabe ao certo qual deles. “Pode ser um lobo selvagem, um lobo domesticado que fugiu, um híbrido de lobo e cão, ou até mesmo cães selvagens”, explicou.

Ele destacou que, sem evidências claras como fotos, pegadas, DNA ou restos humanos em fezes de lobos capturados, é afirmado com certeza que os ataques foram cometidos por lobos selvagens.

Jhala classificou a cobertura midiática sobre os recentes ataques de canídeos como exagerados. Ele também ressaltou que tigres, leopardos, elefantes e cobras causam mais mortes humanas do que os lobos.

Ele mencionou ainda que, mesmo somando os óbitos causados ​​por esses animais, o número ainda é menor do que as fatalidades ocasionadas por acidentes de carro.

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