Pertencente ao gênero Cratosomus, um besouro recém-descoberto na Amazônia pode estar mimetizando uma rã venenosa para proteger-se de predadores, segundo um novo estudo.
Na exuberante vegetação de Puerto Misahualli, na província de Napo, no leste do Equador, os pesquisadores se depararam com um fenômeno notável. Nessa localidade amazônica, um gorgulho e o sapo venenoso Ameerega trivittata medem aproximadamente 4 cm e compartilham um habitat semelhante. Esse gorgulho foi observado navegando na folhagem a cerca de 50 cm do solo e no chão da floresta, espelhando o micro habitat do anfíbio.
A nova espécie de Gorgulho que ainda não possui nome científico exibe uma semelhança impressionante com o A. trivittata, um anuro venenoso reconhecido por sua coloração preta e verde, um aviso visual de sua toxicidade. Esse mimetismo é um exemplo claro de aposematismo, em que as cores brilhantes servem como um mecanismo de defesa, indicando aos predadores que um organismo pode ser prejudicial ou desagradável.
No artigo “A possible case of insect-frog mimicry” publicado no periódico Herpetology Bulletin os cientistas enfatizam o mimetismo estratégico do besouro como uma tática de sobrevivência, tomando emprestado esse método de dissuasão dos anfíbios, naturalmente equipados com toxinas.
O que é mimetismo?
O mimetismo é um fenômeno biológico fascinante que ocorre quando uma espécie imita características de outra espécie ou do ambiente em que vive. Essa imitação pode ser visual, comportamental ou até mesmo química, e tem como principal objetivo aumentar as chances de sobrevivência do organismo que a utiliza.
O mimetismo pode ser usado para diversos fins, como camuflagem para evitar predadores, imitação de espécies venenosas ou perigosas para afastar possíveis ameaças, ou até mesmo para atrair presas. Exemplos clássicos de mimetismo incluem borboletas que imitam folhas secas, insetos que se parecem com galhos de árvores e serpentes que imitam espécies venenosas.
Entretanto, nem todas as espécies que apresentam padrões vívidos semelhantes possuem a capacidade real de prejudicar os predadores. Esse fenômeno é diferenciado em dois tipos distintos de mimetismo. O mimetismo batesiano ocorre quando apenas o modelo – a espécie que está sendo imitada – é realmente tóxico. As espécies não tóxicas adotam a aparência das tóxicas para evadir predadores. O mimetismo Mülleriano, por outro lado, envolve tanto o modelo quanto o imitador que são genuinamente tóxicos. Assim, os predadores aprendem a evitar esses padrões, reconhecendo o risco associado.
Primeiro caso entre insetos e anfíbios
Embora a toxicidade do besouro permaneça incerta, os especialistas não podem atribuí-la de forma conclusiva a um tipo específico de mimetismo. Entretanto, Luis Felipe Toledo, professor de vertebrados do departamento de Biologia da Unicamp e coautor do estudo, sugere que o mimetismo batesiano é a forma predominante observada na natureza.
“Esse é o primeiro caso de um anel mimético entre insetos e anfíbios, não tem outro que eu saiba. É impressionante porque, na verdade, é uma coisa que a gente esperaria que tivesse. Devem ter outros casos, então acho que essa publicação pode estimular as pessoas a procurar outros casos”, diz o professor universitário.