Mesmo com a piora dos incêndios florestais no que diz respeito à ocorrência e devastação, os estadunidenses continuam construindo casas com madeira. Nesse contexto, os Estados Unidos destaca-se como um dos raros locais no mundo em que a madeira continua a ser o material predominante para esse fim. Conforme relatado pela Associação Nacional de Construtores de Casas, impressionantes 90% das habitações erguidas em 2019 foram estruturadas principalmente com madeira.
Ainda que os cientistas ressaltarem a crucial contribuição das árvores na captura de carbono e na mitigação das mudanças climáticas, os Estados Unidos se destacam por utilizar mais produtos florestais do que qualquer outra nação. Essa demanda não se limita apenas à construção, estendendo-se também para móveis, pavimentação e papel.
Motivos para evoluir
As razões econômicas para buscar alternativas são existentes e expressivas, visto que o preço da madeira disparou à medida que um número cada vez maior de pessoas em todo o país decide reformar ou construir novas residências, impulsionado pelo boom pós-pandêmico na construção.
Matt Watson, presidente da Gateway Builders, uma empresa empreiteira do norte da Califórnia que constrói casas desde 1997, afirma que “A madeira é onipresente, mas é hora de evoluir”.
Além do fator econômico, o fator ambiental é outro aspecto importante. Os cientistas estão em consenso, destacando este momento como crítico para o planeta. Conforme indicado no relatório do Painel Intergovernamental Sobre Alterações Climáticas, a atmosfera deve aquecer até 2,7 graus Fahrenheit até 2040, a menos que o mundo tome medidas para reduzir suas emissões de gases de efeito estufa.
No entanto, a alta demanda por madeira pode estar contribuindo para o abate de mais árvores, em vez de menos. A ciência, contudo, contradiz essa abordagem, demonstrando que o desbaste das florestas resulta em “restos” que aumentam a intensidade dos incêndios.
Ciclo de colheita
Beverly Law, professora do Departamento de Ecossistemas Florestais e Sociedade na Oregon State University e pesquisadora de carbono do país, reflete que “Mesmo quando praticam silvicultura sustentável, eles a sustentam em um nível abaixo do máximo que ocorreria naturalmente nessas florestas se pudessem crescer.”
Desse modo, as preocupações com as emissões de carbono não são a única razão para defender uma menor dependência da madeira. Devido às temporadas de colheita mais curtas, muitas árvores cortadas não possuem a resistência necessária para produzir vigas duráveis, como aquelas que eram anteriormente utilizadas na construção de casas.
Como alternativa, os construtores estão optando por madeira projetada ou placa de fibra orientada (OSB), que é fabricada por meio da colagem de produtos de madeira descascada. Esse material contém substâncias químicas, incluindo formaldeído, comprovadamente associado a uma degradação significativa da qualidade do ar.
As casas de aço e concreto, por sua vez, não passam pelos danos que as casas com madeira passam, como danos causados pela água e não atraem cupim.
Abandono de casas com madeira é possível?
Os donos de terras florestais argumentam que uma significativa redução no uso da madeira poderia, paradoxalmente, ter efeitos negativos sobre o meio ambiente. Eles sustentam que, na ausência de um mercado para as árvores, os proprietários de terras teriam pouco estímulo para investir na sua manutenção, podendo optar por converter suas propriedades em terras agrícolas ou para fins residenciais.
Ademais, a indústria de produtos florestais afirma que desistir do uso da madeira serrada teria um impacto negativo sobre o emprego, afetando tanto as serrarias quanto a indústria em geral. Estimam que as empresas ligadas à silvicultura sustentam mais de 1 milhão de empregos.
Apesar dos apoiadores das residências em aço argumentarem que essa opção economiza dinheiro a longo prazo devido à eficiência energética, não fica claro qual é o impacto nos custos iniciais de construção.