Uma pesquisa recente aponta que o limite de temperatura no qual o corpo humano consegue sobreviver pode ser consideravelmente inferior ao que se imaginava. Esta inquietante descoberta realça, de maneira crua, a dura realidade enfrentada por milhares de pessoas ao redor do globo, à medida que eventos de calor extremo se tornam cada vez mais frequentes e intensos, impulsionados pela inflexível progressão do aquecimento global provocado pelo homem.
Como o corpo humano reage ao calor extremo
O organismo de uma pessoa jovem e saudável pode resistir a seis horas a 35 graus Celsius com 100% de umidade antes de sucumbir às consequências fatais do calor. Além desse ponto crítico, conhecido como “temperatura de bulbo úmido”, o principal mecanismo de resfriamento do corpo – a transpiração – não evapora, levando a insolação, falência de órgãos e, eventualmente, a morte.
A ocorrência dessa temperatura de bulbo úmido de 35 graus Celsius tem sido excepcionalmente rara na história da humanidade. Contudo, conforme explicou Colin Raymond, do Laboratório de Propulsão a Jato da NASA, a frequência desses eventos dobrou nos últimos 40 anos, rotulando esse aumento como um “grave risco decorrente das mudanças climáticas causadas pelo homem”.
Variabilidade dos limites de temperatura
Os limites de temperatura que cada indivíduo consegue suportar variam bastante, dependendo de fatores como idade, saúde e condições socioeconômicas. Como exemplo, o verão passado na Europa foi marcado pela morte de mais de 61.000 pessoas em decorrência do calor, onde a umidade dificilmente atinge os níveis perigosos das temperaturas de bulbo úmido. Com o aumento global das temperaturas, os cientistas preveem que esses eventos perigosos se tornarão cada vez mais comuns.
Pesquisadores da Universidade Estadual da Pensilvânia, nos Estados Unidos, conduziram experimentos para entender melhor esses limites de sobrevivência humana. Eles descobriram que o “limite ambiental” foi atingido em 30,6°C de temperatura de bulbo úmido, surpreendentemente abaixo dos 35°C previamente teorizados.
Consequências alarmantes
As descobertas dessa pesquisa, publicada na revista Nature, repercutem profundamente em diversas populações. Crianças pequenas, com capacidade reduzida de regular a temperatura corporal, e indivíduos mais velhos, com menos glândulas sudoríparas, estão entre os mais vulneráveis. Além disso, aqueles que trabalham ao ar livre em condições de calor extremo ou não têm acesso a locais de resfriamento também estão em maior risco.
Essa pesquisa também evidencia a conexão entre as temperaturas do bulbo úmido e outros eventos climáticos, como o El Niño e as temperaturas da superfície oceânica. De fato, os oceanos do mundo registraram uma temperatura máxima histórica no mês passado, superando o recorde anterior de 2016.
Estes estudos são mais do que um alerta; eles são um grito de urgência pela necessidade de uma ação global para mitigar o perigo crescente das mudanças climáticas.