Anotações esquecidas de um fazendeiro do século XIX revelam detalhes das estações de cultivo

Daniela Marinho
Imagem: Canva

A sorte sorriu para Kellen Calinger-Yoak, ecologista florestal da Ohio State University, quando, em 2009, ele se deparou com um tesouro inesperado: um exemplar de 1915 do Monthly Weather Review contendo preciosos registros climáticos do final do século XIX. Com quase três décadas de anotações minuciosas, o jornal revelou um tesouro de informações sobre as estações de cultivo, tudo graças ao fazendeiro de Ohio, Thomas Mikesell.

Enquanto mergulhava nas linhas detalhadas, Kellen ficou imerso na narrativa do fazendeiro, que monitorava meticulosamente os padrões climáticos, as mudanças sazonais das árvores e plantas, assim como as colheitas em Wauseon, Ohio. Foi um vislumbre raro do passado, pois Mikesell havia registrado informações precisas sobre a terra onde ele próprio nascera, localizado no canto noroeste do estado.

Descoberta preciosa

As palavras escritas há tantos anos por Thomas Mikesell ganham vida nas páginas amareladas do jornal, trazendo consigo o conhecimento e a experiência de um fazendeiro do século XIX. Tais anotações, agora reveladas e publicadas pelo jornal, oferecem um olhar fascinante sobre a relação entre os padrões climáticos e as estações de cultivo, revelando segredos que foram esquecidos ao longo do tempo.

A descoberta de Kellen Calinger-Yoak foi muito além de um mero achado fortuito; ela abriu as portas para uma compreensão mais profunda das práticas agrícolas do passado e como elas foram moldadas pelas variações climáticas. Essas anotações esquecidas não apenas salvaram a história do fazendeiro Thomas Mikesell, mas também forneceram pistas valiosas sobre os efeitos das estações do século XIX nas colheitas e no ciclo de vida das plantas.

Diante desses registros preciosos, pesquisadores e historiadores agora têm a oportunidade de explorar e analisar minuciosamente as informações contidas nas anotações do fazendeiro, desvendando os segredos ocultos que elas guardam e lançando luz sobre a interação complexa entre o clima e a agricultura no passado. Essa descoberta singular nos transporta através do tempo, permitindo que compreendamos melhor as nuances das estações de cultivo e como elas influenciaram a vida e o trabalho daqueles que dependiam da terra para sobreviver.

Ciência e Mikesell

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Calinger-Yoak fez observações em terrenos marcados em Wauseon, rastreando os primeiros brotos da primavera e as últimas folhas a cair no final do ano durante 5 anos. Imagem: Kellen Calinger-Yoak

Movido por uma inextinguível sede de conhecimento, Thomas Mikesell embarcou em uma jornada autodidata, consumindo avidamente volumes de ciência e história ao longo das décadas em que meticulosamente registrou uma riqueza de informações. Padrões climáticos, migrações de aves e mudanças sazonais de árvores e plantas eram apenas algumas das facetas que ele explorava apaixonadamente.

Desde o ano de 1865, Mikesell acompanhava-se a rastrear e catalogar minuciosamente os padrões que abraçavam a terra que ele chamava de lar. Essa busca por compreender as nuances e as transformações do clima despertou em Mikesell uma paixão inabalável, que impulsionou sua devoção aos registros meticulosos.

Com cada página virada e cada linha escrita, o fazendeiro autodidata mergulhou mais fundo nos segredos que a natureza revelou. Seu espírito curioso, avançando além dos limites da agricultura, abraçava a ciência e a história, envolvendo-o em um estudioso completo. Através de suas leituras ávidas e diligentes observações, ele buscava decifrar os intrincados movimentos que governavam o clima, assegurando-se de que cada detalhe fosse registrado com precisão.

O caminho trilhado por Mikesell não era apenas uma jornada solitária de um homem apaixonado pelo conhecimento, mas também uma missão de acumular sabedoria que transcendesse sua própria existência. Sua dedicação não compensou limites, e suas anotações se completaram um testemunho vivo de sua busca incessante por entender o mundo ao seu redor.

O meteorologista J. Warren Smith, que compilou as notas de Mikesell naquele diário de 1915, disse que “Silenciosamente, cuidadosamente, conscienciosamente, este homem simplesmente manteve os olhos abertos para ver e registrou sistematicamente os movimentos da natureza ao seu redor ano após ano […] Ele fez o que milhares de outros homens poderiam ter feito, mas nenhum outro fez. … A ciência tem uma grande dívida com esse homem.”

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