É inegável que a ciência moderna contribuiu de forma considerável para os avanços na medicina que representaram uma melhor qualidade de vida e maior longevidade. Nesse viés, as pessoas ricas não querem apenas viver mais, mas sim viver para sempre — acumulando suas riquezas. Empenhados em fazer isso acontecer, os bilionários idosos estão usando seus bolsos recheados.
Se por um lado essa afirmação parece surreal, por outro lado, a pesquisa de antienvelhecimento, declarada pela Wired, poderia “dar início à maior revolução na medicina desde a descoberta dos antibióticos”.
Riqueza e poder para sempre?
Não é novidade que a busca pela imortalidade é um assunto sempre em pauta, ainda que possua diversas pontas soltas. No entanto, o tema pode reverberar no ponto sombrio de desvio na história da riqueza. Isso porque essa tecnologia pode significar que pessoas muito ricas poderão acumular riqueza e poder para sempre; afinal de contas, o dinheiro equivale a muito poder.
O bioeticista da Universidade de Utrecht que estuda a ética do envelhecimento, Christopher Wareham, disse ao The Financial Times que “Isso vai potencialmente exacerbar todos os tipos de desigualdades existentes que temos. Quanto mais tempo você está por perto, mais sua riqueza se acumula, e quanto mais rico você é, mais influência política você tem.”
Tempo, poder e riqueza
Evidentemente, o tempo é o principal motivo que faz com que as coisas realmente mudem, inclusive a política. Dessa forma, Wareham levanta uma discussão bastante interessante quando coloca o assunto de riqueza eterna sob uma perspectiva existente e potencialmente “real”: a de que ditadores, autocratas, fanáticos e afins também migrariam para a fonte tecnológica da juventude.
Nesse cenário, não é estranho supor que os ricos já fabricantes de um dispositivo milagroso que promete vida eterna ainda no “mundo sensível” como postulou Platão, não iriam medir esforços para controlá-lo e detê-lo o máximo possível, como uma espécie de monopólio.
Contrariamente e de forma surpreendente, Elon Musk, o bilionário fundador da SpaceX e entusiasta da colonização de Marte, é contra à tecnologia da imortalidade, argumentado que os líderes devem morrer em algum momento.
Entretanto, há pessoas que lutam com essas questões mais delicadas, como é o caso do executivo-chefe da Hevolution Foundation [organização sem fins lucrativos de longevidade], Mehmood Khan. Ele disse ao Financial Times que sua organização está financiando apenas produtos que podem ser “democratizados”. Além disso, Khan acrescentou que “Se isso for um tratamento no valor de um zilhão de dólares para um punhado de pessoas não tem interesse”.
Código da imortalidade
Financiado por Jeff Bezos, o Altos Labs foi fundado com o objetivo de reverter doenças e entregar “rejuvenescimento celular”. Segundo sua descrição, a intenção é:
Nossa missão é restaurar a saúde e a resiliência das células por meio da programação de rejuvenescimento celular para reverter doenças, lesões e deficiências que podem ocorrer ao longo da vida. Uma comunidade de cientistas, clínicos e líderes líderes da academia e da indústria trabalharão juntos para essa missão comum. A Altos está sediada nos EUA, na área da baía de São Francisco e em San Diego, e no Reino Unido, em Cambridge. A empresa também tem colaborações significativas no Japão.
O Conselho de Diretores e conselheiros da Altos inclui ganhadores do Prêmio Nobel e líderes científicos. Altos se dedica a desvendar a biologia profunda da programação de rejuvenescimento celular.
Embora existam diversas organizações do tipo, elas precisarão decifrar o código da imortalidade ou até mesmo acrescentar algumas décadas a mais na vida humana para entregar os resultados que prometem. A questão chave é que, quanto mais dinheiro envolvido e, portanto, mais poder, as promessas são fáceis de quebrar.