Exceto em aves, o clitóris é um órgão presente em todas as linhagens de vertebrados, inclusive nos primos mais próximos das cobras, os lagartos. No entanto, nenhum pesquisador havia investigado e descrito o órgão em cobras – até agora. Isso porque, recentemente, os cientistas descobriram o clitóris da cobra e estão fascinados.
Para que a pesquisa fosse melhor desenvolvida, os pesquisadores analisaram cobras fêmeas da família das víboras e outras para descrever o órgão, conhecido como hemiclitoris nesses animais.
Cientistas descobrem o clitóris da cobra
A cientista e bióloga evolutiva da Universidade de Adelaide, na Austrália, Megan Folwell, estava dissecando uma víbora da morte australiana (Acanthophis antarcticus), quando fez uma incisão com um bisturi na cauda do animal, chegando onde nenhum cientista havia ido antes: a descoberta do clitóris da cobra, o hemiclitoris.
Folwell relatou ao Live Science que não fazia sentido para ela que a literatura não apresentasse um estudo sequer sobre a presença do órgão em serpentes. Esse foi o momento que a pesquisadora decidiu investigar a fundo.
Desse modo, ela e sua equipe estudaram o assunto, resultando no trabalho publicado na Revista Proceedings of the Royal Society B no qual foi descrito, pela primeira vez, a estrutura do “hemiclitoris” bifurcado em cobras.
O estudo, no entanto, é apenas o começo da pesquisa. Folwell espera que as próximas fases da pesquisa revelem resultados que contribuam para a escrita da história da evolução do hemiclitoris e como ele se encaixa no comportamento de acasalamento das cobras. Ela diz que “Estamos realmente muito animados com tudo isso”.
Estudos “majoritariamente masculinos”
Contraditório, há diversos estudos, precisamente mais de dois séculos de dados, que tratam sobre hemipênis: a estrutura presente em cobras machos destinada à reprodução. Em contrapartida, ainda não se tinha qualquer referência sobre uma estrutura equivalente em fêmeas.
O hemipênis – genitália de cobras masculinas – foi predominantemente mais documentado em muitas espécies. A estrutura é essencialmente um pênis de duas pontas enfiado sob a base da cauda (e muitas vezes mantido dentro do corpo até o acasalamento). Por conta dos mais de 200 anos de estudo sobre o órgão, os cientistas têm uma gama vasta sobre os tipos, tamanhos e formas.
Verossimilhança diante das narrativas humanas
A escassez de estudos sobre a anatomia feminina é uma tendência científica preocupante. Até mesmo em humanos, as pesquisas que tratam sobre o clitóris são pouquíssimas. Na verdade, até meados da década de 1840 não se sabia que a estrutura do órgão é super complexa, com grandes bulbos internos cheios de terminações nervosas.
Foi apenas em 2005, com o trabalho da urologista australiana Helen O’Connell, que diversas informações imprecisas acerca do clitóris foram revisadas nos livros didáticos. Para uma maior surpresa, somente no mês passado [novembro] – pela primeira vez também – os cientistas contaram todas as 10.000 fibras nervosas do clitóris humano.
Os dados sobre a anatomia reprodutiva feminina em animais é ainda mais superficial do que em humanos. Um artigo de perspectivas de 2014 publicado na revista PLOS Biolog mostrou que cerca de 50% de todos os estudos sobre genitália animal publicados entre 1989 e 2013 focaram exclusivamente em machos, enquanto 10% focaram apenas em fêmeas.
Viés histórico
Os vieses históricos levaram os pesquisadores a ignorar e negligenciar aspectos importantes da reprodução feminina, gerando enormes lacunas de conhecimento. O biólogo evolutivo e pesquisador de gênero da Universidade de Estocolmo, na Suécia, que não esteve envolvido na nova pesquisa, Malin Ah-King, disse que “Se a pesquisa da evolução genética investiga apenas as partes masculinas, isso dá uma compreensão muito distorcida da natureza.”
Dessa maneira, é inegável que o estudo coordenado por Folwell é extraordinário e muito acrescenta à ciência moderna. A partir dele agora se sabe que existem hemiclitorises em pelo menos nove espécies de cobras e que eles variavam tanto quanto os hemipênis.
Em defesa de outros cientistas, Folwell disse que o tecido que compõe as hemilitorises das cobras é bastante delicado. Embora, em alguns casos, o órgão seja muito grande. “Ver a estrutura do nervo foi realmente emocionante”, disse a pesquisadora.