Betelgeuse está perto de sua morte. As estrelas são vivas. Não vivas como os humanos, mas de certa maneira podemos dizer que são vivas. Elas passam por sua gestação, formando-se através da poeira estelar e um dia chega seu parto — quando o núcleo é denso suficiente para fundir matéria. Mas um dia elas também morrem. As estrelas possuem seu ciclo de vida. Um final possível da vida de uma estrela é explodir em uma supernova — digo um final possível pois nem todas as estrelas tornam-se supernovas. O Sol mesmo, não explodirá em uma supernova.
Algumas mudanças mais simples na vida de uma estrela podem ser notavas durante a passagem de nosso tempo. Em poucos anos, podemos notar mudanças no comportamento de uma estrela através da análise de dados. Mas é claro que uma vida inteira de uma estrela não pode ser vista em uma vida humana. Estrelas vivem bilhões de anos. O tempo de vida varia de acordo com o seu tamanho, mas para todas elas, é uma quantidade de tempo imensurável para a pacata vida humana.
O Grande Escurecimento de Betelgeuse
Com cerca de 11 vezes a massa do Sol, Betelgeuse é uma das estrelas mais brilhantes do céu visível da terra — ela entra no top 10. Mas entre o final de 2019 e o início de 2020 ela começou a enfrentar um escurecimento.
“Entre novembro de 2019 e março de 2020, Betelgeuse – a segunda supergigante vermelha mais próxima da Terra (aproximadamente 220 parsecs, ou 724 anos-luz de distância) — experimentou um escurecimento histórico de seu brilho visível”, relata um artigo publicado na revista Nature em junho de 2021. Os cientistas chamam o evento de Grande Escurecimento de Betelgeuse.
A estrela escureceu porque expeliu uma grande nuvem de poeira. É normal que estrelas liberem matéria, mas Betelgeuse expeliu matéria em demasia (a matéria expelida era muitas vezes mais “pesada” do que a nossa Lua). Essa nuvem, então, tapou o que vemos dela. Além disso, sua superfície também enfraqueceu um pouco, auxiliando ainda mais em seu escurecimento. Uma célula de convecção (um tipo de movimento de fluidos) excepcionalmente fria fez com que houvesse uma grande queda de temperatura na atmosfera da estrela. O gás que a estrela expeliu em 2019 se condensou em uma poeira. O escurecimento foi tão grande que pode ser notado a olho nu.
Essa não é a única mudança recente nela. Dois mil anos atrás ela possuía um brilho mais amarelado. Hoje, já está mais avermelhada, pois está se aproximando do final de sua vida. Mas ele não está tão próximo assim.
Betelgeuse está se recuperando
No último dia 11, a NASA disse que Betelgeuse está lentamente se recuperando de sua explosão. Mas ela ainda não está totalmente normal. O artigo com o novo estudo ainda não foi publicado em nenhuma revista está disponível no repositório arXiv em pré-print. O artigo aguarda revisão por pares.
“Betelgeuse continua fazendo algumas coisas muito incomuns agora; o interior está saltando”, disse em um comunicaod da NASA Andrea Dupree, do Centro de Astrofísica Harvard–Smithsonian.
“Nunca vimos uma imensa ejeção de massa da superfície de uma estrela”, disse Dupree. “É um fenômeno totalmente novo o qual podemos observar diretamente e entender detalhes da superfície com o Hubble. Estamos observando a evolução estelar em tempo real”.
As mudanças no comportamento de Betelgeuse estão trazendo luz, aos cientistas, de como, mais detalhadamente, funciona do final do ciclo de vida de estrelas do tipo dela – as estrelas que tornam-se supernovas.
A última supernova que pode ser vista da Terra a olho nu ocorreu em 1604. A recente instabilidade de Betelgeuse alimentou esperança de observarmos outra. A estrela está muito próxima da Terra, e veríamos o brilho de sua explosão por semanas. Não sabemos ainda os sinais exatos de uma supernova, mas as análises mais recentes mostraram que a estrela não está tão próxima assim de explodir – pode levar mais cerca de 1 milhão de anos.
Os cientistas continuarão observando a nuvem ejetada por Betelgeuse com o Telescópio Espacial James Webb, o sucessor muito mais poderoso do Hubble. Eles esperam observar a poeira por telescópios em 2023.