Porque os vikings deixaram a Groenlândia? Mistério pode ter sido desvendado

Letícia Silva Jordão
Imagem: Unsplash

No final do século X, a promessa de colinas verdes e um solo fértil foi o bastante para atrair uma onda de migrantes nórdicos que estavam em busca de uma vida melhor no exterior. Isso fez com que a população da colônia atingisse dezenas de milhares de pessoas, que ficaram espalhadas por três grandes comunidades. Mas então, tudo acabou e os vikings deixaram a Groenlândia.

A costa sul da região foi ocupada pelos vikings por quatros séculos e desocupada de forma misteriosa. Não havia indícios de adversidade ou de lutas. Em meados do século XV, o experimento nórdico na Groenlândia falhou.

No entanto, os pesquisadores nunca deixaram de estudar esse fato, e agora um novo estudo, publicado na revista Science Advances, aponta que a principal causa do colapso pode ter sido identificada erroneamente, com o foco mudando do frio extremo para a seca excessiva.

Os vikings deixaram a Groenlândia por conta do clima

Por mais difícil que possa parecer uma existência viking na Groenlândia, o povo prosperou e se expandiu ao longo de várias gerações após sua fundação em 985 dC, antes de desaparecer dos registros históricos em algum lugar em meados de 1400.

A formação da colônia também coincidiu com o início de um resfriamento regional no Atlântico Norte, levando alguns historiadores a acreditar que o estabelecimento da colônia só foi possível devido ao relativo calor antes do início da era do resfriamento.

Os que chegaram cedo, adaptaram-se aos invernos longos e gelados e ao grande isolamento, encontrando riquezas na forma de peles de morsa e marfim para trocar com os de casa por frutas secas e madeira.

A sobrevivência dependia do conhecimento hereditário de como cultivar colheitas escassas e gado em ambientes hostis, complementando com alimentos do mar.

Os historiadores argumentam que o desaparecimento da colônia pode ter sido causado por qualquer coisa, desde a brutalidade repentina de uma cultura invasora até uma queda constante nas taxas de natalidade ou dificuldades causadas por uma mudança climática.

vikings na groenlandia
Ruínas vikings na Groenlândia.

Não há dúvidas de que muitas variáveis ​​estavam em jogo, mas o consenso tende a apontar

uma delas como a mais importante: um declínio de longo prazo nas temperaturas conhecido como Pequena Idade do Gelo. É um conceito que um grupo de pesquisadores da Universidade de Massachusetts Amherst e da Universidade de Buffalo, nos Estados Unidos, desvendou recentemente.

A equipe afirma que uma queda acentuada nas chuvas de verão tornou a vida na Groenlândia cada vez mais inviável. Eles obtiveram essas informações usando registros de temperatura e precipitação enterrados no sedimento de um local próximo aos restos de uma antiga propriedade nórdica.

Uma terra que não era tão verde como o prometido

A equipe de Raymond Bradley, geocientista da UMass Amherst, passou três anos coletando amostras de material de um lago próximo ao local de um dos principais campos da colônia no Assentamento Oriental. Este sanduíche de lama de sedimentos, bactérias e matéria vegetal em decomposição, contou uma história de 2.000 anos de temperaturas consistentes e diminuição das chuvas.

“O que descobrimos é que, embora a temperatura quase não tenha mudado durante a ocupação nórdica do sul da Groenlândia, tornou-se cada vez mais seca ao longo do tempo”, explica o principal autor e geocientista Boyang Zhao, que trabalhou anteriormente na UMass Amherst e atualmente está na Brown University.

Potenciais colapsos sociais, uma tendência a famílias menores e até uma redução no valor das presas de morsa devido ao aumento do comércio de marfim de elefante do exterior, podem ter tornado as secas ainda mais difíceis de suportar. Afinal, a desintegração social é um negócio complicado.

Por conta de todo esse cenário que os vikings deixaram a Groenlândia aos poucos. Mesmo aqueles mais resistentes achariam insuportáveis os ​​anos de seca se vivessem em uma terra que não fosse tão verde quanto prometido.

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