O aquecimento global que vivenciamos já aconteceu no passado

Francisco Alves
Imagem: Unsplash

O planeta Terra experimentou um aquecimento global significativo e rápido há 56 milhões de anos. Os cientistas o identificam como o Máximo Térmico Paleoceno-Eoceno (PETM, na sigla em inglês). Foi causado por uma liberação massiva de gases de efeito estufa, como resultado de uma intensa atividade vulcânica. Mas uma equipe internacional de pesquisadores, em um estudo publicado na Science Advances, demonstrou que esse aquecimento excepcional foi precedido por um evento que lembra estranhamente a mudança climática que estamos experimentando hoje. As emissões de dióxido de carbono (CO2) semelhantes aos níveis atuais levaram a um breve aquecimento e acidificação dos oceanos.

A sequência de mudanças ambientais que levaram ao Máximo Térmico Paleoceno-Eoceno permanecia obscura. Mas os cientistas esperam que esses dois eventos consigam fornecer informações úteis sobre como nosso clima pode evoluir ainda mais com uma taxa de CO2 na atmosfera que continua a aumentar. As evidências de mudanças ambientais relacionadas ao PETM são registradas em sedimentos marinhos, como resultado do oceano absorvendo grandes quantidades de CO2 da atmosfera. Ao analisar a composição química das conchas de foraminíferos — organismos microscópicos preservados na forma de fósseis — os pesquisadores têm acesso à temperatura e ao pH dos oceanos da época. Mas eles não tinham fósseis que datam do início do PETM.

O estudo e os cenários

Os pesquisadores perfuraram ao longo da costa leste dos Estados Unidos. Uma região que antes correspondia a uma plataforma continental rasa. Com uma taxa de sedimentação elevada devido à sua proximidade com a terra e alguma proteção contra a acidificação dos oceanos.

Eles fizeram o uso de uma técnica inovadora. Um laser da largura de um cabelo humano para retirar amostras de plâncton microscópico e enviar as partículas vaporizadas para um espectrômetro de massa. Foi assim que eles conseguiram acessar detalhes nunca vistos antes. Ao analisar apenas algumas conchas disponíveis, eles estimaram a acidez e, portanto, o teor de carbono dos oceanos na época. Na época do evento que antecedeu o PETM, eles observaram um aumento nas emissões de carbono da ordem do que pode ser liberado hoje pelas atividades humanas.

Isso traça paralelos mais próximos com as mudanças climáticas antropogênicas — embora as calotas polares que existem hoje aumentem a sensibilidade do clima ao aquecimento. Este evento precursor de curta duração parece mais semelhante ao que poderia acontecer se a taxa atual de emissões de carbono fosse reduzida rapidamente. 

“Esse carbono poderia se dissolver nas profundezas dos oceanos”, comenta James Zachos, professor de ciências da Terra, em um comunicado da Universidade da Califórnia. “O evento precursor do PETM mostra que levaria centenas de anos para o sistema climático retornar ao seu equilíbrio pré-industrial.”

Mas isso não é nada comparado às centenas de milhares de anos que o clima da Terra levou para se recuperar do PETM. O aquecimento extremo sugere qual poderia ser nosso futuro se continuarmos a emitir CO2 na taxa atual, e é mais uma prova de que são necessárias ações urgentes para acabar com nossas emissões de gases de efeito estufa.

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