O aquecimento do planeta já está fazendo com que espécies de animais e vegetais busquem climas mais amenos e favoráveis, mais longe dos trópicos. Uma nova pesquisa, contudo, indica que queimadas podem induzir a velocidade e direção da migração de árvores e outros vegetais.
Evidentemente, plantas não podem se locomover como animais. ainda assim, vegetais podem alongar suas raízes e galhos em determinada direção, caso favorável. Para além disso, sementes podem ter mais sucesso quando dispersadas para regiões mais favoráveis, o que muda a área habitada pela espécie ao longo de gerações.
A esse fenômeno de lenta mudança de hábitat, dá-se o nome de range-shift (ou mudança de alcance). Nesse sentido, um novo estudo publicado no periódico Nature Communications indica que as queimadas selvagens podem acelerar essa mudança de alcance, ao menos em duas espécies de árvores.
Para tal conclusão, a equipe de pesquisadores de Stanford analisou dados de mais de 74.000 locais atingidos por queimadas no oeste dos Estados Unidos. Na pesquisa, oito espécies de árvores nativas foram o foco para o fenômeno de range-shift.
Destas espécies, a conífera Pseudotsuga menziesii e o carvalho Quercus chrysolepis mostraram tendências significativas de mudança de hábitat devido às queimadas.
Ou seja, algumas espécies podem estar se deslocando mais rápido em direção a ambientes favoráveis, deixando plantas competidoras ilhadas em climas extremos. “Forças complexas, interdependentes estão formando o futuro de nossas florestas,” afirma o aluno de Stanford e autor da pesquisa, Avery Hill.
Como as queimadas eliminam a competição
Apesar de mostrar a influência das queimadas sobre a distribuição destas espécies vegetais, os autores não concluem exatamente os motivos disso acontecer. Contudo, há algumas suspeitas a respeito.
Quando uma queimada ocorre, seja por motivos naturais ou não, boa parte dos vegetais acaba morrendo e deixando um espaço vazio no solo. Isso causa, portanto, uma maior disponibilidade de nutrientes para as espécies sobreviventes. Além disso, o fogo tende a eliminar o dossel das árvores – a cobertura de folhas que cobre o “teto” da floresta – e isso aumenta a incidência de luz no solo.
“Queimadas, porque reduzem a cobertura vegetal e portanto reduzem alguns aspectos de competição planta-planta, fornecem um ponto de entrada para explorarmos a hipótese de que remover competidores pode acelerar a expansão de alcance relacionada ao clima,” afirmam os autores em seu artigo.
Apesar da adaptabilidade de certas espécies, a maioria dos vegetais não reage de forma positiva após queimadas. Isso pode causar, novamente, o isolamento de espécies nativas em regiões com climas desfavoráveis. Ao longo de gerações, o resultado tende a ser a extinção.
“Claro, os efeitos do fogo na composição de comunidades certamente vão além de reduzir a competição planta-planta, e outros aspectos da ecologia do fogo poderiam influenciar range-shifts relacionados ao clima.”
A pesquisa recomenda ainda que as queimadas controladas podem ter uma importância significativa na conservação de florestas, e elas podem até mesmo ser usadas lentamente para aumentar a distribuição de certas árvores. Ainda assim, a necessidade de novas estratégias de conservação é cada vez mais evidente.
A pesquisa está disponível no periódico Nature Communications.