Uma nova pesquisa sugere que as harpias, maiores aves de rapina do planeta, não podem caçar em ambientes abertos. Isso aumenta a preocupação acerca da preservação do animal, uma vez que o desmatamento vem causando diminuição das presas das harpias e consequente diminuição da população destas aves.
Para chegar a esta hipótese, pesquisadores monitoraram populações de harpias e seus hábitos alimentares no Mato Grosso. Os registros mostraram que em regiões com desmatamento entre 50% e 70% os filhotes tinham maior probabilidade de morrer de fome. Acima de 80%, por conseguinte, não houve regstros de ninhos ou harpias.
Segundo os autores, isso ocorre sobretudo porque as harpias são predadores de emboscada que caçam no topo das árvores. Suas principais presas, por exemplo, são preguiças e pequenas espécies de macacos. Todavia, com a retirada das árvores, as presas acabam morrendo ou fugindo para novas regiões, o que causa escassez de alimento para os filhotes de harpia.
Para piorar ainda mais, as harpias têm ciclos de vida muito rápidos, com poucos filhotes de cada vez. Assim a população acaba tendo dificuldade em se adaptar e ensinar seus filhotes a sobreviverem em um novo ambiente.
Desmatamento como ameaça à biodiversidade
Nos últimos 50 anos, estima-se que ao menos 17% da Amazônia (não só brasileira) tenha sido perdida nos últimos anos. Além do mais, políticas públicas recentes, sobretudo no Brasil, têm contribuído para uma perda inestimável de habitats e biodiversidade amazônicos.
De acordo com estudos anteriores, acredita-se que existam em torno de 5.000 harpias na Amazônia. Além do mais, esses animais se reproduzem a cada dois ou três anos, tendo no máximo dois filhotes. Ademais, os gaviões-reais (segundo nome das harpias) são monogâmicos e dificilmente encontram novos pares quando seus companheiros morrem.
Todos estes fatores estão contribuindo, portando, para uma queda drástica na população de harpias. Contudo, como mostra a pesquisa publicada na Scientific Reports, o desmatamento é a principal causa da perda destes animais. Isso acontece especialmente em estados como o estudado (MT), que perderam porcentagens altíssimas de suas coberturas de floresta tropical.
De acordo com a pesquisa, ainda, o desmatamento representa a perda de mais de 3.200 casais de harpias em comparação a sua população original na Amazônia, que seria em torno de 20.000 no começo do século passado.
O artigo está disponível no periódico Scientific Reports.