É simples agradar os hipopensantes. Basta que se mastigue todo o alimento intelectual, de má ou de péssima qualidade, e disponibilize a esse indivíduo, acompanhado de doses de frases genéricas, pitadas de agrado a sua impotência pungente disfarçada de fé fervorosa e, por fim, deixar presente, diversas vezes, a palavra “estudos”, em meio a um texto cujos paragráfos não ultrapassem três linhas – esse último passo é demasiado importante, afinal leituras longas desagradam em muito tais indivíduos.
O resultado é exatamente o desejado: milhares de compartilhamentos e coraçõeszinhos pululando em sua rede social. Os hipopensantes lotam as redes sociais. Contudo, esperava-se o que de pesssoas que abrem o Facebook com o único intuito, repito: único, de rir de gatos aprontado peripécias das mais diversas e descobrir quem foi a última atriz a sair com o Brad Pitt?
O maior obstáculo à divulgação científica nasce exatamente na complexidade da informação que deve ser transmitida a um público leigo, sem que haja perda da qualidade, ou, em casos extremos, perda dos caracteres básicos que se espera em uma notícia de cunho científico. Notar tais caracteres, ou se deliciar de tal complexidade da informação, é precisamente o que os hipopensantes não conseguem realizar – simplesmente porque é exigida certa dose de atividade mental que faz qualquer hipopensante arrepiar da unha do pé ao fio de cabelo.
A preguiça mental não é exclusiva deles – todo ser humano experimenta tal condição, e vencer tal resistência é uma atividade a que poucos se propõem, e menos ainda realizam. Pior: é uma atividade constante, pois não basta vencer a resistência uma vez – sempre que for posto a sua frente um obstáculo mental, que exiga certa quantidade de esforço intelectual, é erguido um muro, o muro que separa os hipopensantes daqueles que se aventuram nas mais diversas áreas do aprimoramento intelectual.