Bactérias e mineração espacial não parece ser duas coisas que combinem. No entanto, um novo estudo publicado na revista Nature Communications indica que as bactérias aumentariam a eficiência da mineração em colônias humanas fora da Terra. Nas palavras dos autores, os dados “demonstram o potencial da biomineração espacial e os princípios de um reator [químico, não nuclear] para o avanço da indústria humana e da mineração além da Terra.”
O foco dos cientistas com as bactérias e a mineração espacial é na exploração da Lua e de Marte. Como já relatamos diversas vezes por aqui, o interesse das agências espaciais e empresas na Lua é grande. O satélite natural se tornará, em breve, um porto espacial, pois para sair da Terra, gastamos muito combustível, graças à atmosfera. Isso limita muito da distância de viagens tripuladas. Portanto, para levarmos humanos a Marte, por exemplo, precisamos reabastecer em algum local – a Lua, no caso,
Dentre as aplicações das bactérias está a mineração, como aplicação mais imediata. Isso traria uma boa quantidade de matéria prima para os humanos trabalhar no necessário. Além disso, a quebra de rochas traria minerais suficientes para tornar um solo fértil e cultivar plantas em estufas marcianas e lunares para a alimentação.
“Os microrganismos são muito versáteis e, à medida que avançamos no espaço, eles podem ser usados para realizar uma diversidade de processos. A mineração elementar é potencialmente um deles”, explica em um comunicado a Dra. Rosa Santomartino, da Escola de Física e Astronomia da University of Edinburgh, no Reino Unido.
O experimento
Na Terra, já utiliza-se os microrganismos na mineração. Ao desgastar a rocha, expõem o mineral em si. Dessa forma, o mineradores não precisam utilizar componentes químicos extremamente venenosos e prejudiciais à saúde, como o cianeto, muito utilizado na mineração do ouro aqui na Terra, mas também serve como um potente veneno.
Durante uma década inteira, a equipe desenvolveu um pequeno reator (embora as pessoas comumente liguem a palavra reator a um reator nuclear, um reator é simplesmente um local onde ocorrem reações, sejam nucleares, sejam qualquer outro tipo de reação física, sejam químicas). Com o tamanho de uma caixa de fósforo, os cientistas enviaram 18 reatores para a ISS (sigla em inglês para Estação Espacial Internacional).
A ideia da equipe era entender se as bactérias conseguiriam degradar as rochas em um ambiente de microgravidade. A Lua por exemplo, possui uma gravidade 6 vezes menor do que a Terra. Portanto, funcionar em uma gravidade mais baixa do que ocorre na Terra auxiliará no sucesso da biomineração. Isso abrirá as portas da exploração espacial.
Dentro do reator, havia pedaços de basalto, uma rocha vulcânica bastante comum na Lua. Nas soluções, os cientistas utilizaram três espécies de bactérias: Sphingomonas desiccabilis , Bacillus subtilis e Cupriavidus metallidurans, em diferentes combinações entre os diversos reatores. Além disso, os cientistas mantiveram um reator com uma solução sem as bactérias, como grupo controle – garantindo que as bactérias que degradaram as rochas de fato.
Resultados das bactérias na mineração espacial
Os cientistas descobriram, então, que não ocorreram diferenças significativas entre a biomineração em Terra e baseada no espaço. Além disso, para B. subtilis e C. metallidurans, a mineração dos minerais das terras raras (um grupo de 17 minerais), se assemelhou ao grupo controle. Mas a espécie de bactéria S. desiccabilis se descatou bem, com relação ao grupo controle.
“Nossos experimentos dão suporte à viabilidade científica e técnica da mineração elementar biologicamente aprimorada em todo o Sistema Solar”, diz o Professor Charles Cockell, da University of Edinburgh. “Embora não seja economicamente viável minerar esses elementos no espaço e trazê-los para a Terra, a biomineração espacial poderia potencialmente sustentar uma presença humana autossustentável no espaço.”
O estudo foi publicado no periódico Nature Communications. Com informações de Science Alert e University of Edinburgh.