O mistério do que aconteceu com a orelha de Van Gogh, mutilada em 23 de dezembro de 1888, nenhum médico, psiquiatra ou mesmo historiador de arte conseguiu desvendar.
Após examinar detalhadamente as correspondências do famoso pintor holandês, além de milhares de documentos, pesquisadores explicaram o estado mental que levou ao suicídio de Vincent Van Gogh.
Van Gogh perdeu sua orelha esquerda em Arles, sob circunstâncias misteriosas, e a entregou para uma mulher em um bordel. Alguns historiadores acreditam que Paul Gauguin teria cortado a orelha de Van Gogh durante uma violenta discussão. Outros defendem a tese de automutilação por problemas mentais.
Lesão decorrente de um ataque psicótico
Um novo estudo publicado no The Internacional Journal of Bipolar Disorders defende a hipótese de crise psicótica. Ou seja, a lesão foi causada por um episódio psicótico alimentado também pela abstinência de álcool.
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Vincent Van Gogh sofria de um transtorno de personalidade “limítrofe” sério, dizem pesquisadores do University Medical Center em Groningen, na Holanda. Os sintomas se agravaram devido a dependência de álcool. A abstinência, associada a desnutrição, poderiam ter resultado no ataque de delírio.
Então, ocorreu o episódio psicótico durante o qual o pintor holandês teria decepado sua orelha esquerda. Portanto, seriam contornos desse transtorno.
Depois, Van Gogh teria desenvolvido dois delírios relacionados também à abstinência de álcool, o que foi piorando a sua saúde mental com episódios depressivos graves. Ao menos um dos acontecimentos teve características psicóticas e ele não se recuperou plenamente. Até levá-lo ao suicídio, escreveram os cientistas no estudo.
Compreensão da psicopatia de Van Gogh
Para chegar ao diagnóstico, os pesquisadores leram cerca de 900 cartas escritas pelo pintor aos seus parentes, incluindo seu irmão Theo. Os documentos históricos permitiram respostas sobre o transtorno de personalidade para melhor compreender a psicopatologia de Van Gogh.
No entanto, esse método de análise pode apresentar falhas. As cartas foram escritas ao irmão e demais parentes para tranquilizá-los, não foi escrita para seus médicos. Nelas, ele descrevia o que estava sentindo, inclusive seus problemas mentais.
Ou seja, o diagnóstico está longe de ser definitivo. Em 2016, 35 médicos, psiquiatras e historiadores de arte internacionais falharam e não conseguiram chegar a um diagnóstico definitivo também. O encontro ocorreu no Museu Van Gogh de Amsterdam, na exposição Au bord de la folie, dedicada ao pintor.
“Existem milhares de documentos médicos sobre o estado mental de Van Gogh, mas se provou extremamente difícil determinar a causa de seus problemas”, disse Martin Bailey, especialista em Van Gogh.
Esse último estudo é baseado em uma pesquisa séria de artigos médicos sobre a condição mental e os sintomas do artista, mas é improvável que seja a última palavra sobre este difícil assunto. Ou seja, é uma questão desafiadora investigar a saúde mental de Van Gogh, diz Bailey.
Estudo publicado no The Internacional Journal of Bipolar Disorders.