Sim, há lagos de água salgada em Marte. Dois anos atrás, cientistas animavam-se com a descoberta de um lago subterrâneo em Marte. No entanto, deve haver ainda mais lagos.
A água líquida é um dos principais pré-requisitos para a existência de vida – ou pelo menos a vida como conhecemos. A água exerce um papel fundamental em diversos processos biológicos. Embora existam alguns substitutos hipotéticos, nunca encontramos algum ser vivo independente de água.
Portanto, a existência de lagos de água salgada em Marte indicam uma possível evidência de locais para a existência de vida no passado, ou até mesmo nos dias atuais.
Na ocasião da descoberta em 2018, a água estava abaixo da calota polar sul de Marte, ou seja, abaixo do gelo. Eles detectaram o lago através de dados da sonda Mars Express, da Agência Espacial Europeia (ESA).
Fenômenos semelhantes ocorrem na Terra, e lagos formam-se abaixo de calotas polares, causado quando o calor e a pressão exercidos pelo solo derretem o gelo subterrâneo.
No entanto, ainda há um ponto. Como a atmosfera de Marte é bastante rarefeita e o planeta é muito frio, a água não consegue permanecer em estado líquido na superfície.
Até mesmo no subterrâneo é difícil. Portanto, para diminuir a temperatura de congelamento, a água precisa estar bastante salgada. Então esses lagos são verdadeira salmouras. Além disso, Marte não é mais geologicamente ativo, e não se sabe se ele poderia produzir o calor suficiente para a formação desses lagos.
Em um estudo publicado ao final de setembro na Nature Astronomy, uma equipe de cientistas defende a existência de múltiplos lagos salgados abaixo da superfície marciana.
Buscando por lagos de água salgada
“Identificamos o mesmo corpo d’água [o de 2018], mas também encontramos três outros corpos d’água ao redor do principal”, diz a co-autora Elena Pettinelli em um comunicado. “É um sistema complexo”.
Eles utilizaram também dados do o Mars Express. Mais especificamente, o instrumento Mars Advanced Radar for Subsurface and Ionosphere Sounding (MARSIS).
Em resumo, o MARSIS funciona através de ondas de rádio. Ele envia essas ondas, que são refletidas, e parte penetra. As ondas que penetram refletem de acordo com os detalhes do subsolo. Por meio desses dados é possível analisar a morfologia e composição interna.
Eles descobriram, então, que esses lagos estão distribuídos em uma área de 75 mil quilômetros quadrados. Isso equivale a área do estado do Alagoas somada ao Espírito Santo, aproximadamente, ou metade da área do Uruguai. O maior lago possui 30 km de diâmetro.
Vida?
Para sustentar vida, um lago deve ter no máximo 5 vezes a concentração de sal média dos oceanos da Terra. No entanto, os lagos de Marte possuem 20 vezes esse valor. A antártica também possui alguns lagos semelhantes.
“Não há muita vida ativa nessas poças salgadas da Antártica”, diz John Priscu, cientista ambiental da Montana State University. “Eles estão apenas em conserva. E esse pode ser o caso [em Marte]”
“Se o material brilhante realmente for água líquida, acho que é mais provável que represente algum tipo de lama ou lama”, explica Mike Sori, geofísico planetário da Universidade Purdue, EUA.
O estudo foi publicado na Nature Astronomy. Com informações de Astronomy Magazine e Nature News.